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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Zero à esquerda
SÃO PAULO - Como intelectual,
Emir Sader é um zero à esquerda.
Não há registro de nada minimamente relevante ou inspirador no
que escreve. Desde que a revolução
o deixou a ver navios, seu ativismo
tosco dedica-se à tarefa de atazanar
jornalistas para plantar notinhas na
imprensa burguesa que despreza.
Circula pela internet um abaixo-assinado a favor de Sader, contra a
decisão do juiz que o condenou, entre outras coisas, à perda do emprego por ter ofendido o senador Bornhausen. A sentença é absurda, de
fazer inveja a Kafka, e deve ser revista. Mas não é absurdo nem autoritário o direito do senador de processar quem o chama de "assassino", entre outros afagos. Sorte que a
Justiça burguesa dê a Sader o direito de recorrer.
Esse episódio evoca um outro.
Corria o ano feliz de 2003 quando o
então superpoderoso Delúbio Soares decidiu processar Chico de Oliveira, que havia rompido com o PT
e chamado a atenção para o modo
de vida gangsterizado de petistas no
poder. O tesoureiro exigiu indenização de R$ 50 mil e a retirada de
circulação de um livro recém-lançado por Chico.
O peso da máquina do governo foi
jogado contra o intelectual dissidente. Tudo indica que o esquema
do mensalão tenha pago os advogados de Delúbio. Na ocasião, ninguém abriu o bico. Nem no PT nem
na universidade. Onde estavam os
milhares que hoje saem em defesa
de Sader e a favor da "livre manifestação"? Covardia? Silêncio estratégico? Submissão ao poder?
Criticar Bornhausen é tão necessário quanto fácil. É o demônio do
lado de lá. Explicar se há e qual é a
diferença substantiva entre ele e
Jader ou Newtão é um pouco mais
complicado. E também mais útil.
A reeleição de Lula destampou a
sanha vingativa de parte do baixo
clero petista e reacendeu a tentação
autoritária que ronda certos áulicos
do Planalto, no governo e na mídia.
A esquerda intelectual deve estar
muito ocupada com a defesa de Sader. Veremos logo quem será o próximo Chico de Oliveira do petismo
-não é mesmo, Marco Aurélio?
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