São Paulo, terça-feira, 06 de novembro de 2007 |
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SERGIO COSTA Guerra química
RIO DE JANEIRO - Ingresso para
uma festa que nunca acaba: R$ 80.
Comprimido para ficar "ligado" horas a fio: R$ 30. Preço da água mineral para não "derreter" em meio ao
baticum eletrônico: R$ 3. Perder
um filho por overdose, sem nem sequer saber onde ele estava, não tem
dor que pague ou compense.
Droga sintética é mais cara e mais
forte do que maconha e cocaína.
Não tem cheiro, não deixa rastro
pela casa, é carinhosamente chamada de "balinha" pela garotada.
Não vem dos rincões de matutos
bolivianos, paraguaios ou colombianos. É feita em laboratórios do
Primeiro Mundo e exportada para
cá, embalada num contexto que envolve estética, estilo e atitude.
Todos sabem "quem tem". Dissemina-se por meio do tráfico formiguinha e solidário, que dispensa subidas ao morro, traficantes armados e drogados ou "dura" da polícia
na volta. Um bate-papo no MSN ou
Google Talk resolve tudo.
O baile funk na favela ganhou sua
versão elite branca: a rave. A filosofia é a mesma: parece uma festa,
mas é uma feira. Cobra-se ingresso,
aumenta-se o som e trancam-se os
portões. Fecham-se os olhos. Ibiza
é aqui. Puro êxtase sem controle ou
fiscalização. Uma carteira falsificada garante a entrada no paraíso.
Aos poucos, no noticiário da tevê,
saem de cena os pretos magrinhos
de bermuda e chinelo, entram em
cartaz os brancos de tórax malhado,
bermuda e tênis Puma. Atrás deles,
os policiais de sempre. Sempre correndo atrás.
A revolução industrial do tráfico,
por meio da oferta e do aumento do
consumo de drogas químicas, está
apenas começando. Mas o estrago
que provoca parece irreversível.
Um moleque de 17 anos engole uma
pílula e seja o que Deus quiser -ou
o diabo. Se ele estiver ligado.
sergioqc uol.com.br |
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