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CARLOS HEITOR CONY
Banco imobiliário
RIO DE JANEIRO - Não sei se
ainda existe, mas sou do tempo em
que havia um joguinho de dados
chamado Banco Imobiliário. Distribuíam-se notas simbólicas de dinheiro entre cinco ou seis participantes e cada um ia atirando os dados num tabuleiro onde estavam
marcados os hospitais, escolas, hotéis, restaurantes, usinas, ferrovias,
aeroportos, navios, minas disso e
daquilo etc.
À medida que cada jogador atingia uma casa, ficava dono do negócio respectivo. Quem depois caísse
numa dessas empresas, pagava alguma coisa ao proprietário. Com a
continuação dos lances, depois de
muitas rodadas, um dos jogadores
ficava dono de tudo e de todo o dinheiro circulante.
No sistema do capitalismo globalizado, a tendência é repetir o mesmo jogo. Não se trata de simples ganância, mas de sobrevivência empresarial. Não se pode prever, mas,
sem mudança nas regras do jogo, fatalmente um determinado grupo
ou mesmo um determinado indivíduo poderá ficar dono de todas as
fontes de produção e riqueza.
As fusões, nacionais ou internacionais, são etapas deste processo.
Não adianta louvá-las nem satanizá-las. São e serão necessárias para
garantir a normalidade do capitalismo liberal, a menos que o capitalismo estatal intervenha violentamente e interrompa a cadeia.
A recente fusão de dois grandes
bancos brasileiros criou um gigante. Tanto o Itaú como o Unibanco
têm tradição no mercado cultural,
mantendo entidades que se destacam na promoção das artes e patrocínios. O Itaú Cultural e o Instituto
Moreira Salles criaram uma tradição e uma rotina que certamente
serão ampliadas.
É bem verdade que, no dia-a-dia
do cidadão comum, ao pagar suas
contas e taxas, o sistema bancário
continuará sendo a expressão mais
truculenta do capitalismo que alguns chamam de selvagem.
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