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De volta ao passado
Depois de Dilma acenar com alívio nos tributos, governo e aliados tentam reabilitar a CPMF, sob a alegação de que faltam recursos para a saúde
A principal derrota do presidente Lula no Congresso em seus oito
anos de mandato foi o fim da
CPMF, em dezembro de 2007. De
lá para cá ele não perdeu oportunidades de culpar a oposição pelo
que seria a irresponsabilidade de
deixar a saúde sem dinheiro.
Depois de alguns balões de ensaio frustrados nos últimos anos,
o presidente voltou à carga logo
na primeira entrevista pós-eleição, ao lado de sua sucessora, Dilma Rousseff. Antes mesmo que tivesse secado a tinta de seu primeiro discurso, em que pregara alívio
nos tributos, a presidente eleita
mostrou-se sensível à ideia de restaurar a taxa -embora tenha dito
que não tomaria essa iniciativa.
Rapidamente surgiram aliados
a sugerir a restauração do tributo.
A primeira pergunta a ser feita é:
falta dinheiro para a saúde a ponto de se justificar a recriação da taxa, com o nome de Contribuição
Social para a Saúde (CSS)? A resposta é não. A emenda constitucional 29, aprovada em 2000, garantiu recursos crescentes para a
área quando indexou as despesas
ao crescimento do PIB nominal.
Entre 2002 e 2009, os gastos
com saúde nos três níveis de governo cresceram de R$ 55 bilhões
(3,7% do PIB) para R$ 166 bilhões
(5,3% do PIB), o que representa
uma alta de 93% em termos reais
(ajustada pela inflação).
No plano federal, com gastos de
R$ 58 bilhões em 2009, o crescimento chegou a 46% no mesmo
período. Foi, portanto, nos Estados e municípios que as despesas
aumentaram mais, ultrapassando
100%. O fim da CPMF em nada
afetou esse movimento.
Formalmente, a criação da CSS
-com alíquota de 0,10% e arrecadação prevista de R$ 15 bilhões ao
ano- está estipulada no projeto
de lei complementar 306, atualmente em tramitação na Câmara,
que regulamenta a emenda 29. É
sabido que vários governadores
-talvez a maioria, incluindo os de
oposição- apoiam a CSS. Movem-se pela vontade de obter mais recursos para fazer frente ao endurecimento nas regras de vinculação de despesas previsto no projeto ou de negociar com o governo
federal uma divisão de atribuições
que lhes seja mais vantajosa.
Um exemplo é o governador
eleito de Minas, Antonio Anastasia, que se pronunciou a favor, dizendo que a demanda de recursos
para a saúde é "infinita". Sem dúvida. O mesmo pode-se dizer de
educação, segurança, infraestrutura e tantas outras.
Os recursos, porém, não são infinitos. À luz dos números acima,
a prioridade deve ser assegurar o
bom uso dos consideráveis recursos já garantidos por lei. Gestão
eficaz, combate a lobbies que superfaturam custos e iniciativas inteligentes que melhorem o relacionamento entre vários níveis de
governo e com a iniciativa privada
são exemplos do que pode ser feito para melhorar os serviços.
Compreende-se que governantes queiram mais e mais recursos,
mas em vez de apoiar a volta de
uma taxa que pouco mudará o padrão de financiamento da saúde,
seria melhor que se empenhassem
em aumentar a eficiência da máquina pública para que empresas
e contribuintes pudessem se ver
aliviados do peso desmedido de
nosso sistema tributário.
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