São Paulo, domingo, 06 de novembro de 2011

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Equação política

Saída para crise europeia depende menos de aumentos de recursos do que das condições para implementar os ajustes necessários

Como era inevitável, a agenda do encontro do G20 em Cannes teve como tema central a crise europeia. O resultado, de certa forma decepcionante, não foi muito além da manifestação de boas intenções, sem compromisso formal a respeito de aspectos como apoio financeiro à Europa, mudanças na composição do FMI e maior flexibilidade cambial nas economias com grande superavit externo.
O objetivo original dos líderes da zona do euro era chegar ao encontro fortalecidos pelas medidas anunciadas na semana passada -como a capitalização dos bancos do continente, a redução de 50% da dívida grega e o aumento de recursos do fundo de estabilização europeu. Imaginava-se que esse pacote fosse suficiente para ganhar tempo e o apoio da comunidade internacional.
A confusão armada pelo premiê grego mostrou, todavia, quão imprevisíveis e complexos podem ser esses processos de negociação. Apesar do recuo na ideia de convocar um referendo para aprovar as medidas, ficaram evidentes as incertezas e o alto custo político que cercam a implantação de pacotes de austeridade em um quadro recessivo.
A Itália, por exemplo, viu-se obrigada, no encontro, a aceitar o monitoramento de suas contas pelo FMI e pela União Europeia, o que aumentou as dúvidas sobre a continuidade do governo do primeiro-ministro Silvio Berlusconi.
Nesse cenário, adiou-se para o ano que vem a decisão sobre o aumento dos recursos disponíveis no FMI, hoje em US$ 390 bilhões, para fazer frente a eventuais necessidades da Europa.
O comunicado do G20 mencionou duas vias para o aporte. A primeira seriam transferências individuais de países para o fundo, não proporcionais às suas cotas na instituição. A segunda seria um mecanismo pelo qual a proporção seria preservada.
No caso das contribuições individuais, a contrapartida viria com o aumento da participação do país doador nas decisões do FMI. É o caminho mais complicado, pois enfrenta a resistência da Europa e dos EUA, que não querem perder terreno na entidade.
Na realidade, o aumento dos recursos não é o principal problema para encaminhar uma solução para a crise. A zona do euro, afinal, emite uma moeda forte e não tem deficit em relação ao restante das economias mundiais.
A questão é, sobretudo, política. A superação das dificuldades exige vultosas transferências dos países centrais do continente para os "periféricos", em troca de penosos ajustes financeiros.
É esta equação que os líderes europeus procuravam enfrentar quando foram atropelados -com o G20- pelo anúncio do referendo grego. E nada garante que novas surpresas não estão por vir.


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