São Paulo, domingo, 06 de novembro de 2011

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JOSUÉ GOMES DA SILVA

Brasil protagonista

Em 2009, Niall Ferguson, professor em Harvard e autor de "A Ascensão do Dinheiro", argumentou que as medidas iniciais de combate à crise global da época haviam sido bem-sucedidas. Mas alertou que a situação poderia levar à aceleração do declínio dos EUA e à ascensão da China.
O historiador escocês comparava os cenários das distintas depressões, lembrando que, no início do século 20, o Reino Unido, então grande potência, enfrentava problemas de endividamento e baixa expansão. A partir do "crash" de 1929, mesmo ainda sem fôlego para liderar o mundo, os EUA surgiram como carro-chefe entre as nações.
Hoje, observa Ferguson, "seria perfeitamente familiar, do ponto de vista histórico, se essa crise levasse à aceleração da mudança da liderança mundial", em que a China passaria a ocupar a posição dos EUA. Não me parece que estejamos na iminência do surgimento de outra superpotência e que ela pudesse ser a China.
A economia dos EUA, apesar do pouco dinamismo atual, segue criativa, e as novas indústrias, sobretudo as do conhecimento, têm nascido nos EUA, que continuarão desempenhando papel relevante.
É improvável que a China assuma a liderança mundial, não obstante os avanços de sua economia e a qualidade de sua infraestrutura, pois falta-lhe o preceito essencial da democracia. Isso acarreta desrespeito à liberdade de imprensa, aos direitos individuais, a certas leis de mercado, a princípios trabalhistas e às práticas ambientais sustentáveis.
Além disso, na sociedade global não há mais espaço para um único líder ou o "oligopólio" do G7. Nesse aspecto, foi imensa a contribuição da diplomacia brasileira, ao capitanear o aumento da influência do G20, democratizando as grandes decisões econômicas da humanidade.
Ainda despercebido por muitos em sua real dimensão, esse avanço estabelece um novo paradigma, no qual o capitalismo democrático é a referência. O Brasil tem apresentado coerência entre o que defende e o que pratica no campo político-econômico.
Temos democracia (que se consolida a cada nova eleição) e instituições resistentes aos graves problemas que ainda enfrentamos e cujo tratamento tem sido pautado pelo estrito respeito às leis. Ademais, nossa economia manteve-se firme e dinâmica em meio às crises de 2008/2009 e ao risco que atormenta o Norte.
Ao lado de outras nações democráticas, o Brasil atua no sentido de buscar soluções para o crescimento sustentado, a redução das disparidades regionais, a segurança alimentar, a proteção ambiental e a erradicação da miséria.
O país tornou-se um dos protagonistas da agenda internacional, conquista que devemos comemorar.

JOSUÉ GOMES DA SILVA escreve aos domingos nesta coluna.


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