|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Tempos modernos
RIO DE JANEIRO - A direção de
um colégio mandou instalar câmeras de TV nos banheiros do estabelecimento. O motivo seria o de impedir atos de vandalismo, muito comuns em escolas, aeroportos, cinemas e outros locais públicos. De
quebra, amplia a fiscalização do uso
de drogas e atos ditos indecorosos.
Ao ler a notícia, lembrei uma das
obras-primas de Chaplin, "Tempos
Modernos", de 1936, em que o operário estressado na esteira de produção, apertando parafusos, vai ao
banheiro para interromper por alguns minutos a vertiginosa loucura
da fábrica. Passados alguns segundos, aparece na parede do banheiro,
numa tela de TV do tamanho de
uma tela de cinema, nada menos do
que o gerente, que ordena ao operário a volta imediata ao trabalho.
Chaplin preconizou o "Big Brother" de George Orwell, mostrando
que, nos tempos modernos, a privacidade de todos nós seria invadida
pela tecnologia e pelos interesses
da produção política, cultural, econômica e industrial.
Não apenas nas fábricas e escolas
está havendo a invasão da privacidade. Em nome da segurança, lojas,
bancos, edifícios de apartamentos
estão sendo monitorados pelo olhar
eletrônico de câmeras sofisticadas,
que, em alguns casos, ajudam a
identificar criminosos e suspeitos.
No fundo, é um problema de custo e beneficio. Para termos um pouco mais de segurança e de respeito
aos bens públicos, somos obrigados
a aceitar a invasão de um pedaço de
nossa intimidade.
Em breve, ao nascer, uma criança
terá enxertado em seu pequenino
corpo um chip que controlará, via
satélite, todos os movimentos que
ela fizer até o fim de sua vida. E não
apenas os movimentos, mas os pensamentos, as dúvidas, os recalques e
as intenções. A humanidade será
robotizada em nome da eficiência e
da segurança. Não há dúvida: vivemos tempos modernos.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: O nome errado da cláusula Próximo Texto: Antonio Delfim Netto: Onde está o busilis? Índice
|