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CLÓVIS ROSSI
Uma Annapolis do Sul
SÃO PAULO - Pego carona no apelo da mãe de Ingrid Betancourt, Yolanda, para que o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva se disponha a
ajudar a libertar sua filha, prisioneira há quase seis anos das Farc, a
narcoguerrilha colombiana.
Vá além, presidente, e estude
convocar uma espécie de Annapolis
sul-americana. Annapolis foi a sede
do encontro convocado pelo presidente George Walker Bush para
tentar tirar do pântano o processo
de paz no Oriente Médio, que hoje é
exclusivamente processo de guerra.
Os resultados só se verão, se vierem, ao longo do próximo ano. Mas
o simples fato de ter havido a reunião provocou movimentos. E movimento é tudo de que necessita o
processo de integração sul-americano, menina dos olhos da diplomacia brasileira desde pelo menos o
governo Itamar Franco.
Não pode haver avanços nesse
processo quando o presidente da
Venezuela ofende o da Colômbia e
congela as relações com o vizinho.
Ou quando os presidentes do Uruguai e da Argentina nem se falam.
Para não mencionar conflitos internos (na Bolívia e na própria Colômbia, motivo do apelo de Yolanda Betancourt a Lula).
O Brasil tem uma liderança regional natural, por seu peso demográfico, territorial e econômico. Lula é
o presidente mais bem visto no subcontinente, segundo o mais recente
Latinobarómetro. Ou ele assume os
bônus e os riscos da liderança e do
prestígio externo ou o processo de
integração tão desejado pelo presidente brasileiro ficará indefinidamente no pântano.
Se Bush, que não tem, hoje, um
décimo do prestígio de Lula, pôde
chamar inimigos seculares para a
mesma mesa, por que Lula não pode fazer o mesmo com governantes
que não têm tantos séculos nem
tanto sangue assim para discutir?
PS - Concedo ao leitor duas semanas de férias. Aproveite, mas não
acostume, por favor.
crossi@uol.com.br
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