São Paulo, terça-feira, 07 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IMPASSE CONSAGRADO

O duplo ataque terrorista que provocou a morte de 23 pessoas anteontem em Tel Aviv (Israel) ocorre a apenas três semanas das eleições e quase certamente produzirá efeitos sobre o resultado do pleito.
Sempre que o terror ataca, o eleitor israelense reage, tendendo a apoiar os candidatos que defendem medidas mais duras contra os palestinos. O beneficiário direto desse movimento é, no presente caso, o atual premiê Ariel Sharon, do Likud (direita), que tenta a reeleição. O principal rival de Sharon é o trabalhista Amram Mitzna, do Partido Trabalhista (centro-esquerda), que propõe a retomada das negociações de paz com os palestinos a partir do ponto em que foram suspensas, há dois anos.
Às vésperas do ataque, pesquisas registravam queda do Likud na preferência dos israelenses, mas nada que ameaçasse a ampla vantagem com que conta a agremiação.
É natural e compreensível que os israelenses votem preocupados com a segurança. Há poucas coisas mais pavorosas do que o estresse diário a que são submetidas pessoas que vivem num Estado sob campanha terrorista, como ocorre com Israel. Há poucas coisas piores do que conviver diuturnamente com a perspectiva de ser atingido por um homem-bomba em tarefas tão prosaicas quanto atravessar a rua ou tomar um ônibus.
O problema das propostas de Sharon, que se recusa a negociar o que quer que seja com os palestinos enquanto os ataques não cessarem, é que elas só oferecem respostas para o curto prazo. Não existe segurança no mundo capaz de impedir os estragos que um homem-bomba disposto a explodir-se de causar.
Já os trabalhistas, ao insistir numa solução negociada para o conflito, pretendem encontrar uma solução para a questão do Estado palestino e, assim, eliminar as causas que estão a gerar o terror palestino. A grande dificuldade é que boa parte dos israelenses, depois do fracasso das primeiras negociações, já não confia em Iasser Arafat ou nos palestinos.
Ao que tudo indica, as urnas apenas consagrarão o impasse.


Texto Anterior: Editoriais: TUDO PELO SOCIAL
Próximo Texto: São Paulo - Vinicius Mota: Mitos e ritos financeiros
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.