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RUY CASTRO
De volta à sala de aula
RIO DE JANEIRO - O historiador
e diplomata Alberto da Costa e Silva deu, como sempre, uma ótima
entrevista, esta para a repórter Mariana Filgueiras, no "Jornal do Brasil", em que fala de quatro atividades essenciais que praticávamos na
sala de aula e que, pelo visto, a escola brasileira abandonou.
Uma, a leitura em voz alta. Um
aluno lia alto e os outros o acompanhavam no mesmo texto, em silêncio. Depois se revezavam. "Quem lê
em voz alta toma gosto pela leitura", diz ele. "Ler alto ensina a virgular, ensina as respirações da fala."
Outra, o ditado. "Ele educa o ouvido", observa Da Costa e Silva, além
de exigir do aluno o conhecimento
da palavra e da estrutura da frase, a
destreza e a clareza caligráficas.
Quantas crianças no Brasil de hoje
serão capazes de tomar um ditado
sem cometer grossas batatadas
com seus garranchos?
Uma terceira, a cópia. O simples
ato de copiar um texto estimula a
concentração para a grafia, os
acentos e a pontuação. Não que os
garotos não estejam entregando
trabalhos baseados em textos que
copiam liberalmente da internet
-mas a cópia na sala de aula é outra coisa. Ali é que, diante do professor, a onça bebe água. E, por fim, a redação -ou composição, como
se chamava, baseada na observação
de objetos. "A composição estimula os sentidos. A criança aprende a
pôr no papel, com palavras, o que
vê", diz Alberto. "A descrição de
quadros de natureza-morta, por
exemplo, é essencial." Ou a visita
ao zoológico, diria eu, ou à fábrica
de sorvete.
Alguém dirá que o próprio conceito de sala de aula mudou e que o
importante agora é enchê-la de
computadores. Mas a mecânica
elementar do conhecimento em
nossos meninos terá se sofisticado
a esse ponto? Por enquanto, o que
estamos produzindo são crianças
que marcam xis no chute em testes
de múltipla escolha.
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