São Paulo, quinta-feira, 07 de janeiro de 2010

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KENNETH MAXWELL

Três elefantes cor-de-rosa

EM OUTUBRO de 1942, Knut Haugland e três outros soldados noruegueses das forças especiais chegaram de paraquedas ao altiplano de Hardanger, na Noruega. Membro da Companhia Independente Norueguesa, Haugland iniciava sua participação em um dos mais ousados atos de sabotagem da Segunda Guerra.
Os britânicos suspeitavam que a usina da Norsk Hydro em Vermork, nas montanhas Telemark, cerca de 130 quilômetros a oeste de Oslo, estivesse produzindo "água pesada", como parte de um programa secreto alemão para o desenvolvimento de uma bomba atômica. Haugland e seus companheiros foram instruídos a esperar pela chegada do restante da unidade, despachada em planadores.
A segunda fase da operação foi um desastre, no entanto. Os planadores não localizaram o alvo e caíram. Os sobreviventes foram todos capturados, torturados e, em seguida, fuzilados pelos nazistas. Haugland sobreviveu ao inverno norueguês em uma cabana de caçador, comendo carne de rena, farelo de aveia e líquen. Ele construiu um aparelho de rádio usando varas de pesca roubadas e a bateria de um automóvel e estabeleceu contato com os britânicos. Seu código era "três elefantes cor-de-rosa".
Em fevereiro de 1943, os britânicos enviaram uma segunda equipe de forças especiais, com seis soldados. Depois de fazerem contato com Haugland, eles conseguiram se infiltrar na usina da Norsk e posicionar explosivos, tudo isso sem disparar um tiro. Quatro membros da equipe viajaram centenas de quilômetros de esqui, chegando à fronteira da Suécia. Haugland e os demais continuaram na Noruega, trabalhando em colaboração com a resistência norueguesa.
A despeito de ter sido capturado três vezes pela Gestapo, Haugland conseguiu escapar em todas essas ocasiões. Retornou ao Reino Unido em 1944, onde conheceu Thor Heyerdahl em um campo de treinamento paramilitar britânico. Em 1947, ele se integrou à famosa expedição Kon-Tiki, de Heyerdahl, como operador de rádio. A viagem os levou em uma balsa do Peru à Polinésia, através do oceano Pacífico, e tinha o objetivo de provar que a Polinésia havia sido colonizada por americanos, não por asiáticos.
Em um dos momentos mais dramáticos da travessia, Haugland salvou um colega de tripulação que havia sido arrastado da balsa pelo mar bravio.
Knut Haugland morreu aos 92 anos, no dia do Natal. Sempre foi modesto sobre suas realizações. Não gostou muito de "The Heroes of Telemark", o filme de 1965 sobre a sabotagem à usina da Norsk Hydro, estrelado por Kirk Douglas e Richard Harris. "Essa história não deveria ser glorificada. Não éramos heróis. Estávamos apenas fazendo o nosso trabalho".


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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