|
Próximo Texto | Índice
EM CAUSA PRÓPRIA
Ninguém de bom senso negaria a
necessidade de uma boa remuneração para os representantes eleitos da
população. Afinal, em tese, grande
parte deles abandona suas carreiras
ou interesses particulares para se dedicar ao serviço público. Em tese.
Uma parcela do Congresso Nacional, porém, parece ter inesgotável capacidade de demonstrar ao público
que, em vez do interesse coletivo, trabalha mesmo em causa própria.
O mais recente exemplo é a verdadeira chantagem que alguns parlamentares promoveram nos últimos
dias, negando-se a comparecer às
sessões da convocação extraordinária caso não recebessem dois salários
extras (no valor de R$ 16 mil).
Com isso, os deputados federais e
os senadores receberão, em janeiro,
nada menos que três salários, uma
situação que qualquer outro trabalhador, do setor público ou privado,
nem sequer é capaz de imaginar.
É importante observar que a grande
maioria dos parlamentares não compareceu ao trabalho durante o período de campanha eleitoral, pois estava
nela mergulhada. Não seria exagero
algum se esses parlamentares se dispusessem a compensar agora as horas de trabalho perdidas.
Mais grave ainda é o fato de que a
recusa em dar quórum ocorre quando estão em discussão pontos fundamentais do ajuste fiscal, por sua vez
indispensável para que a economia
brasileira fique menos vulnerável.
Trata-se de uma situação de emergência para a qual os que pensam de
fato no interesse público deveriam
dar respostas igualmente de emergência. Seria um sinal mínimo de
respeito aos sacrifícios que estão
sendo impostos à população. Mas
boa parte dos parlamentares antepuseram ao interesse nacional seus interesses pecuniários mesquinhos.
Não é, pois, de estranhar que, nas
pesquisas de opinião, a avaliação do
Congresso seja ruim, como foi novamente demonstrado no levantamento do Datafolha publicado domingo.
É lamentável, mas só há um culpado: os próprios congressistas.
Próximo Texto: Editorial: AIDS E O KIT DA LEVIANDADE Índice
|