São Paulo, Quinta-feira, 07 de Janeiro de 1999
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EM CAUSA PRÓPRIA

Ninguém de bom senso negaria a necessidade de uma boa remuneração para os representantes eleitos da população. Afinal, em tese, grande parte deles abandona suas carreiras ou interesses particulares para se dedicar ao serviço público. Em tese.
Uma parcela do Congresso Nacional, porém, parece ter inesgotável capacidade de demonstrar ao público que, em vez do interesse coletivo, trabalha mesmo em causa própria.
O mais recente exemplo é a verdadeira chantagem que alguns parlamentares promoveram nos últimos dias, negando-se a comparecer às sessões da convocação extraordinária caso não recebessem dois salários extras (no valor de R$ 16 mil).
Com isso, os deputados federais e os senadores receberão, em janeiro, nada menos que três salários, uma situação que qualquer outro trabalhador, do setor público ou privado, nem sequer é capaz de imaginar.
É importante observar que a grande maioria dos parlamentares não compareceu ao trabalho durante o período de campanha eleitoral, pois estava nela mergulhada. Não seria exagero algum se esses parlamentares se dispusessem a compensar agora as horas de trabalho perdidas.
Mais grave ainda é o fato de que a recusa em dar quórum ocorre quando estão em discussão pontos fundamentais do ajuste fiscal, por sua vez indispensável para que a economia brasileira fique menos vulnerável. Trata-se de uma situação de emergência para a qual os que pensam de fato no interesse público deveriam dar respostas igualmente de emergência. Seria um sinal mínimo de respeito aos sacrifícios que estão sendo impostos à população. Mas boa parte dos parlamentares antepuseram ao interesse nacional seus interesses pecuniários mesquinhos.
Não é, pois, de estranhar que, nas pesquisas de opinião, a avaliação do Congresso seja ruim, como foi novamente demonstrado no levantamento do Datafolha publicado domingo.
É lamentável, mas só há um culpado: os próprios congressistas.


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