São Paulo, quarta-feira, 07 de fevereiro de 2007

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O real sobe a escada

Vários e poderosos fatores convergem para pressionar para baixo a cotação do dólar; reduzir juros é a saída lógica

MAIS UMA grande onda de venda de dólares foi deslanchada no Brasil. A decisão do Fed (banco central dos EUA) de manter em 5,25% ao ano sua taxa básica de juros e a do Copom -ambas na semana passada- de reduzir o ritmo de queda da Selic foram o estopim do movimento que compele à valorização do real.
Os operadores do mercado entenderam que a grande diferença entre a taxa de juros doméstica e a global vai diminuir mais lentamente, tendendo a estabilizar-se no médio prazo. Foi a senha para as vendas maciças de dólar. Ontem a moeda americana fechou em R$ 2,086, menor nível em nove meses. Deflacionada pelo IPCA, a relação dólar/real de hoje é comparável com a que prevalecia no final de 1998, canto do cisne da política de moeda forte que marcou o Plano Real.
Os vultosos saldos acumulados no comércio externo e a taxa de juros doméstica -muito acima da praticada internacionalmente- são os fatores estruturais que vêm forçando para baixo a cotação do dólar no Brasil.
Transações comerciais e de serviços trouxeram ao país US$ 149 bilhões de 2003 a 2006. Parte desse dinheiro foi absorvida nas reservas internacionais do Banco Central, que aumentaram US$ 47 bilhões. Outra parcela dessa montanha de dólares foi usada pelo setor privado para honrar compromissos externos e abater dívida fora do país. Além disso, o fenômeno ajudou a aumentar a oferta de moeda americana no mercado à vista, o que fez baixar a sua cotação.
Os juros altos catalisam a tendência à valorização do real. A perspectiva de ganho mais elevado no Brasil atrai capital estrangeiro -e favorece complexas operações financeiras no mercado de derivativos que, ao final, ajudam a desvalorizar o dólar aqui. Exportadores são induzidos a antecipar o faturamento de seus contratos e a trazer de imediato ao país o dinheiro de suas vendas no exterior -para aplicar os recursos em títulos públicos e evitar perda de receita com a desvalorização do dólar.
As taxas exorbitantes pagas pelos papéis do Tesouro, ademais, encarecem muito a política de acúmulo de reservas internacionais. Cada vez que o BC compra dólares à vista, emite valor idêntico em títulos, o que eleva a dívida líquida do setor público.
Quando tantos e tão poderosos fatores apontam na direção da valorização da moeda nacional, a primeira resposta ortodoxa seria acelerar a redução dos juros básicos. Mas o Copom tomou o caminho inverso na semana passada. Uma alternativa, agora, seria deixar o gradualismo de lado e administrar, em uma única dose, todo o alívio monetário que o mercado prevê seja propiciado até o fim do ano. Trata-se de uma hipótese pouco realista, dado o perfil do Banco Central.
É provável, porém, que, mesmo com uma hipotética redução maior nos juros básicos, persista o problema da valorização crônica da moeda nacional -que está prejudicando a indústria e o PIB. Será inevitável, nesse caso, discutir a adoção de remédios que minimizem o efeito adverso do enorme saldo comercial externo na atividade doméstica.


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