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O real sobe a escada
Vários e poderosos fatores convergem para pressionar para baixo a cotação do dólar; reduzir juros é a saída lógica
MAIS UMA grande onda de venda de dólares foi deslanchada no Brasil. A decisão do Fed (banco central dos
EUA) de manter em 5,25% ao
ano sua taxa básica de juros e a
do Copom -ambas na semana
passada- de reduzir o ritmo de
queda da Selic foram o estopim
do movimento que compele à valorização do real.
Os operadores do mercado entenderam que a grande diferença
entre a taxa de juros doméstica e
a global vai diminuir mais lentamente, tendendo a estabilizar-se
no médio prazo. Foi a senha para
as vendas maciças de dólar. Ontem a moeda americana fechou
em R$ 2,086, menor nível em nove meses. Deflacionada pelo IPCA, a relação dólar/real de hoje é
comparável com a que prevalecia
no final de 1998, canto do cisne
da política de moeda forte que
marcou o Plano Real.
Os vultosos saldos acumulados
no comércio externo e a taxa de
juros doméstica -muito acima
da praticada internacionalmente- são os fatores estruturais
que vêm forçando para baixo a
cotação do dólar no Brasil.
Transações comerciais e de
serviços trouxeram ao país US$
149 bilhões de 2003 a 2006. Parte desse dinheiro foi absorvida
nas reservas internacionais do
Banco Central, que aumentaram
US$ 47 bilhões. Outra parcela
dessa montanha de dólares foi
usada pelo setor privado para
honrar compromissos externos
e abater dívida fora do país. Além
disso, o fenômeno ajudou a aumentar a oferta de moeda americana no mercado à vista, o que
fez baixar a sua cotação.
Os juros altos catalisam a tendência à valorização do real. A
perspectiva de ganho mais elevado no Brasil atrai capital estrangeiro -e favorece complexas
operações financeiras no mercado de derivativos que, ao final,
ajudam a desvalorizar o dólar
aqui. Exportadores são induzidos a antecipar o faturamento de
seus contratos e a trazer de imediato ao país o dinheiro de suas
vendas no exterior -para aplicar
os recursos em títulos públicos e
evitar perda de receita com a
desvalorização do dólar.
As taxas exorbitantes pagas pelos papéis do Tesouro, ademais,
encarecem muito a política de
acúmulo de reservas internacionais. Cada vez que o BC compra
dólares à vista, emite valor idêntico em títulos, o que eleva a dívida líquida do setor público.
Quando tantos e tão poderosos
fatores apontam na direção da
valorização da moeda nacional, a
primeira resposta ortodoxa seria
acelerar a redução dos juros básicos. Mas o Copom tomou o caminho inverso na semana passada. Uma alternativa, agora, seria
deixar o gradualismo de lado e
administrar, em uma única dose,
todo o alívio monetário que o
mercado prevê seja propiciado
até o fim do ano. Trata-se de uma
hipótese pouco realista, dado o
perfil do Banco Central.
É provável, porém, que, mesmo com uma hipotética redução
maior nos juros básicos, persista
o problema da valorização crônica da moeda nacional -que está
prejudicando a indústria e o PIB.
Será inevitável, nesse caso, discutir a adoção de remédios que
minimizem o efeito adverso do
enorme saldo comercial externo
na atividade doméstica.
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