São Paulo, quinta-feira, 07 de fevereiro de 2008

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KENNETH MAXWELL

A luta continua

NOS EUA , nesta semana, 24 Estados, da Califórnia a Massachusetts, conduziram eleições primárias para esclarecer que candidatos os partidos Democrata e Republicano apresentarão na eleição presidencial de novembro. Mas o desfecho das primárias da Superterça é bem menos claro do que os analistas alegam.
O Missouri, Estado conhecido como "indicador de tendências", serve de exemplo. Desde 1904, e com exceção de apenas uma eleição, o candidato que venceu no Estado venceu a eleição presidencial. Lá, o voto dos republicanos se dividiu em três: o senador McCain venceu no Missouri, mas com apenas 33% dos votos; Mike Huckabee, ex-governador do Arkansas, um Estado vizinho, obteve 32% e foi derrotado por margem mínima; enquanto o ex-governador de Massachusetts Mitt Romney ficou com apenas 29%. Mas o dado importante no Missouri foi a divisão do voto entre três candidatos, e sem que um favorito claro surgisse. Do lado democrata, o senador Barack Obama venceu, mas por margem ínfima, obtendo 49% dos votos ante os 48% conquistados pela senadora Hillary Clinton.
O que isso significa para os líderes na disputa nacional, Hillary e McCain? Do lado republicano, o resultado demonstra que McCain ainda precisa superar o poderoso desafio da ala direita do partido, personificado não por Romney, candidato amplamente dotado de recursos, mas por Huckabee, que claramente mantém o forte apoio das bases religiosas e conservadoras de seu partido. Quanto à senadora Clinton, o resultado demonstra que a presença de Obama continua formidável -e de maneira especialmente notável no Missouri. Hillary, como Huckabee, é bem conhecida no Missouri, depois de seu longo período como "primeira-dama" do Estado vizinho.
Os resultados nacionais da Superterça deram oito Estados e 540 delegados a Hillary e 13 Estados e 539 delegados a Obama. A decisão quanto à candidatura democrata pode bem ser postergada até a convenção, na qual os chamados "superdelegados" poderão desempenhar papel decisivo. Estamos falando dos líderes da máquina política e das figuras renomadas do Partido Democrata, entre os quais a influência da máquina política de Hillary será forte.
Observem o Missouri. A indecisão nos resultados demonstra que, entre os republicanos, a insurgência da ala direita continua. E, entre os democratas, o resultado no Estado aponta para os perigos de uma convenção decidida por manobras de bastidores, na qual os líderes do partido poderão garantir a vitória de Clinton, mas sob o risco de frustrar o entusiasmo e a esperança de mudanças fundamentais que Obama despertou neste ano eleitoral. Assim, para ambos os lados, como costumavam dizer os radicais latino-americanos, a luta continua.


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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