São Paulo, segunda-feira, 07 de fevereiro de 2011

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Terceira via árabe?

SÃO PAULO - Ninguém a essa altura ignora que um capítulo importante da história contemporânea está sendo escrito no Egito. Alguns analistas aproximam a revolta contra a tirania de Hosni Mubarak e seu efeito irradiador sobre o mundo árabe (e mesmo além) da onda do ano histórico de 1989, quando ruíram em cascata os regimes autoritários do leste europeu.
A queda do ditador tunisiano semanas atrás e o vetor "ocidentalizante" das demandas das ruas (democracia, liberdades individuais, oportunidades sociais), além do fator econômico, corroboram, em parte, o raciocínio.
Mas nada tem sentido unívoco na caldeira fervente do Oriente Médio. O grande temor dos EUA e, obviamente, de Israel, é que a história venha aproximar o Egito não de 1989, mas de 1979, quando a revolução iraniana instalou no país uma teocracia islâmica ardentemente antiamericana.
Não parece o mais provável. O sentimento antiamericano no Egito não é comparável ao que havia (e há) no Irã, nem o apelo religioso está no centro das manifestações.
A questão é saber se há espaço para uma terceira via no Egito (e no mundo árabe) -um regime que não seja nem uma "ditadura amiga" dos EUA nem uma teocracia mais ou menos fundamentalista. O primeiro passo para construir esse caminho é não satanizar a Irmandade Muçulmana, principal organização religiosa do país, de maioria moderada, na ilegalidade desde os anos 50. Confundi-la com o extremismo, como querem Israel e a direita em geral, é uma tolice.
No horizonte imediato, é preciso ver se as negociações iniciadas serão suficientes para acalmar as ruas. E que papel o Exército, até agora tolerante, jogará em caso negativo. De qualquer forma, ao apostar que Omar Suleiman -chefe dos serviços (sujos) de segurança de Mubarak- seja "o cara" para chefiar esse processo, os EUA indicam que aqui os valores democráticos são a sua última preocupação.


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