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A CONTRADIÇÃO DO FMI
Recorrer ao Fundo Monetário Internacional significa abrir mão de soberania e submeter a política econômica a um monitoramento permanente. Não há nenhum fervor nacionalista subjacente a esse reconhecimento pragmático de que todo devedor, afinal, só recupera o crédito se
mudar seu comportamento.
Mas entre essa subordinação que às
vezes se torna inevitável e o espetáculo de afasia (incapacidade de reflexão
e expressão) oferecido pelo governo
FHC nos últimos dias há uma distância que é difícil compreender.
Aparentemente, trata-se apenas de
um problema de comunicação. Assim, tivemos na semana passada o
episódio deprimente de uma entrevista coletiva em que o ministro da
Fazenda apequenou-se ao lado de
um dirigente do FMI, ao que se seguiu o habitual frenesi de notas malpreparadas e novas coletivas convocadas para tentar explicar o enredo
das relações do país com o Fundo.
Mas não se trata apenas de atos falhos na comunicação, reveladores do
aturdimento que imobilizou o governo FHC. Há uma ausência de diretrizes, pois tudo depende muito de um
novo acordo com o Fundo, que surgirá apenas em uma ou duas semanas.
E uma perigosa aceitação de um receituário de política econômica cujo
insucesso em outros países parece
insuficiente para convencer o FMI de
suas próprias limitações.
O FMI quer do governo brasileiro
inúmeros compromissos, incluindo
metas de inflação. Quanto maior a
inflação, mais altos deverão ser os juros e o aperto de crédito interno.
Um dos lados perversos da receita
defendida pelo Fundo é que a economia brasileira, condenada a uma recessão que, tudo indica, será longa e
feroz, renderá ao governo uma arrecadação de impostos menor. Se o
problema brasileiro é de credibilidade, como recuperá-la quando ocorrem ao mesmo tempo aumento das
despesas financeiras do governo e
queda na arrecadação?
Essa é a contradição do FMI, diante
da qual se imobiliza o país.
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