São Paulo, domingo, 7 de fevereiro de 1999

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A CONTRADIÇÃO DO FMI

Recorrer ao Fundo Monetário Internacional significa abrir mão de soberania e submeter a política econômica a um monitoramento permanente. Não há nenhum fervor nacionalista subjacente a esse reconhecimento pragmático de que todo devedor, afinal, só recupera o crédito se mudar seu comportamento.
Mas entre essa subordinação que às vezes se torna inevitável e o espetáculo de afasia (incapacidade de reflexão e expressão) oferecido pelo governo FHC nos últimos dias há uma distância que é difícil compreender.
Aparentemente, trata-se apenas de um problema de comunicação. Assim, tivemos na semana passada o episódio deprimente de uma entrevista coletiva em que o ministro da Fazenda apequenou-se ao lado de um dirigente do FMI, ao que se seguiu o habitual frenesi de notas malpreparadas e novas coletivas convocadas para tentar explicar o enredo das relações do país com o Fundo.
Mas não se trata apenas de atos falhos na comunicação, reveladores do aturdimento que imobilizou o governo FHC. Há uma ausência de diretrizes, pois tudo depende muito de um novo acordo com o Fundo, que surgirá apenas em uma ou duas semanas. E uma perigosa aceitação de um receituário de política econômica cujo insucesso em outros países parece insuficiente para convencer o FMI de suas próprias limitações.
O FMI quer do governo brasileiro inúmeros compromissos, incluindo metas de inflação. Quanto maior a inflação, mais altos deverão ser os juros e o aperto de crédito interno.
Um dos lados perversos da receita defendida pelo Fundo é que a economia brasileira, condenada a uma recessão que, tudo indica, será longa e feroz, renderá ao governo uma arrecadação de impostos menor. Se o problema brasileiro é de credibilidade, como recuperá-la quando ocorrem ao mesmo tempo aumento das despesas financeiras do governo e queda na arrecadação?
Essa é a contradição do FMI, diante da qual se imobiliza o país.



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