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SELEÇÃO TUTELADA
O colunista Juca Kfouri, desta Folha, revelou no último domingo trechos do contrato, assinado em 1996,
entre a Confederação Brasileira de
Futebol e a Nike, fabricante transnacional de material esportivo.
O documento institui à primeira
vista um mecanismo de patrocínio
pelo qual a CBF receberia US$ 160
milhões durante os dez anos em que
ele estiver em vigor. Em verdade, no
entanto, o patrocinador passa a exercer uma rígida e intolerável tutela sobre a seleção brasileira de futebol.
A CBF é uma entidade de direito privado. Seria por isso descabido acusá-la de ter abdicado de algo que nas
relações internacionais se define como o princípio da soberania.
Mas é também verdade que o futebol expressa um componente cultural importante no Brasil. Quando a
seleção entra em campo, é a paixão e
não a indiferença que se apodera da
ampla maioria dos brasileiros.
Sabe-se que todo grande encontro
esportivo exige uma retaguarda de
decisões técnicas. No caso da seleção, são em princípio as partidas
amistosas que permitem testar esquemas táticos, amadurecer talentos
e formar as bases de uma seleção apta a disputar a Copa da Mundo.
A CBF está, porém, com sua autonomia de escolha comprometida,
para dizer o mínimo. Deverá disputar, em 99, cinco amistosos com times escolhidos pelo patrocinador.
Neles, pertencerá à Nike a bilheteria
e os direitos de transmissão para
qualquer país que não seja o Brasil.
Se quiser escolher adversários para
amistosos, a seleção deverá na prática se limitar à África, Oceania e América Latina. É o que diz o contrato,
estranhamente mantido em sigilo.
O conhecimento detalhado de seu
conteúdo lança luz sobre uma estrutura de poder, a do futebol brasileiro,
que tem gerado clientelismo e suspeitas de corrupção e em torno da
qual gravitam cartolas e personagens
notórios, que têm por vezes usado o
esporte para ascender politicamente.
A gestão empresarial do esporte requer profissionalismo e independência. Não é isso o que emana do contrato da CBF com a Nike.
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