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Vítima farsesca
Com tese de que a "mídia" o persegue, PT mantém figurino autoritário e se faz de injustiçado para encobrir falência moral
O TRUQUE é velho, e sua
repetição só indica o
hábito petista de afetar
ares de pureza em
meio ao pragmatismo mais inescrupuloso. Em documento oficial, a Executiva Nacional do PT
reeditou, quinta-feira, a tese de
que há uma "guerra de extermínio" contra o partido. Posteriormente, amenizou os termos. A
promover tal "guerra" estariam
"amplos setores do empresariado, particularmente a mídia".
Mídia, no jargão corrente, significa todo jornal ou empresa de
comunicação que não defenda figuras notórias do partido.
Como, por exemplo, o ex-ministro José Dirceu, beneficiário
de uma contribuição de R$ 620
mil pela assessoria prestada a
um grupo com interesse na reativação da Telebrás. Ou como os
mensaleiros denunciados por
quem era então aliado do governo, o deputado Roberto Jefferson; ou ainda os "aloprados"
-termo que o presidente Lula
foi o primeiro, aliás, a empregar- da campanha eleitoral de
2006. Como, também, aquele assessor de um deputado petista,
que foi preso ao tentar embarcar
num avião com cerca de U$ 100
mil dólares na cueca.
Aliás, se noticiar esse sistema
de transportar dinheiro sonante
fosse sinal de "guerra de extermínio", seria agora o DEM, e não
o PT, a principal vítima de uma
suposta conspiração.
Mas nem mesmo os sequazes
do governador Arruda arriscaram-se a ir tão longe no cinismo.
É que a capacidade petista para a
mentira tem origens diferentes,
e mais antigas, do que a simples
charamela lacrimosa dos espertalhões de voo curto.
Pois o PT, no clássico figurino
stalinista, sempre pode dar uma
interpretação "de classe" às críticas que venha a merecer. Como o
partido se julga o representante
místico dos "trabalhadores", o financiamento escuso que receba
de empreiteiras, as alterações legais casuísticas que promova em
favor de uma empresa de telecomunicação, não representarão
escândalo jamais.
Ao contrário: aliar-se financeiramente a "setores do empresariado" que vivem à sombra das
benesses do governo, e aliar-se
politicamente à escória do Legislativo brasileiro, torna-se um sinal de esperteza política na linha
dos fins justificam os meios.
Autoabsolvido pelo venerável
espírito hegeliano-marxista da
História, o petismo pode fazer
tudo o que condenava em seus
adversários, e apresentar-se ainda assim como detentor das virtudes mais cristalinas.
Quem apontar a farsa será tachado de inimigo dos trabalhadores -e, na tese de uma imaginária "guerra de extermínio", o
PT mostra apenas a sua própria
tentação totalitária.
Nessa lógica, que não admite
críticas, faz-se de perseguido
aquele que se apronta para perseguir; faz-se de vítima quem
pretende ser algoz; faz-se de democrata o censor, de honesto o
corrupto, de inocente o bandido.
O PT perdeu a moral que tantas
vezes ostentava quando na oposição. Perdeu a moral, mas não
perde o autoritarismo, a mendacidade e a arrogância.
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