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SINAIS DE ALERTA
Seria certamente um exagero dizer
que o país se encontra à beira de uma
convulsão social. Não menos imprudente, porém, seria pretender que
não há razões para apreensão, apenas porque a população suporta silenciosa e passivamente o peso de
uma galopante crise econômica.
Antes de mais nada, porque ninguém tem mais ilusões de que o remédio do governo federal para o desarranjo financeiro provocará uma
forte recessão, ou seja, agravará ainda mais o passivo social num país
ancestralmente injusto nesse particular como o Brasil. Depois, porque
ressurgem aqui e ali manifestações
de inconformismo com o contínuo
retesamento da corda na ponta dos
mais fracos.
A retomada de invasões provocadoras de prédios públicos pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra, o MST, é um sintoma que
não deve ser desconsiderado. Não
tanto por sua representatividade
-de resto inexistente, ou diminuta- em relação à massa de pobres e
excluídos. Pelo contrário: é na arte
oportunista de encampar insatisfações ainda embrionárias, mas com
potencial explosivo, que o MST consegue incrementar sua visibilidade.
Assim ocorreu, rememore-se, na
onda de saques que assolou o Nordeste, em maio do ano passado. Certa ou erradamente, o MST terminou
identificado como o principal incitador das desordens, ainda que relatório da Polícia Federal, na época, tenha indicado seu envolvimento em
apenas 9 de 46 distúrbios.
A esse respeito, cabe notar que a invasão do prédio do Ministério da Fazenda em Porto Alegre foi precedida
de algumas notícias esparsas de novos saques, nas duas últimas semanas. Cerca de 500 flagelados da seca
prolongada invadiram um depósito
de alimentos do Programa Comunidade Solidária na Paraíba, há pouco
mais de uma semana. Dias antes,
dois supermercados haviam sido
vandalizados na cidade de São Paulo
e 40 imóveis, invadidos, episódios
ocorridos no espaço de 24 horas e no
mesmo bairro, Itaim Paulista.
Fatos isolados? Por certo. Somente
a miopia social e política, contudo,
justificaria ignorar que tais manifestações desorganizadas tendem a proliferar em situações de desemprego
crescente e de falta de perspectivas,
quando sindicatos e outras organizações sociais vêem esvair-se muito de
sua capacidade de mobilização.
Entre outros efeitos previsíveis do
agravamento da crise social está a
queda da popularidade do presidente
da República. Na cidade de São Paulo, FHC amarga 43% de "ruim/péssimo", contra apenas 18% de "ótimo/bom" apurados em pesquisa Datafolha divulgada hoje por este jornal. Por mais que seus índices de
avaliação tenham sido injustificadamente contaminados pela óbvia irritação do paulistano com as enchentes, é resultado que o Planalto deve
tomar como um sinal alerta.
O próprio Fernando Henrique Cardoso previu, diante de parlamentares
do PSDB e do PTB, que a avaliação de
seu prestígio vai cair ainda mais.
"Quem governa olhando as curvas de
popularidade quebra a cara no final",
teria afirmado. Corajosamente, FHC
sustentou que não teme os danos à
sua imagem, decerto confiando que
eles sejam passageiros.
É fato que governantes precisam
por vezes contrariar as expectativas
imediatas dos cidadãos, para manter
a racionalidade de suas políticas. Em
algum momento, porém, essas medidas têm de produzir resultados
concretos para todos, particularmente numa nação com os níveis
acabrunhantes de miséria vigentes
no Brasil, sob pena de ver desmanchar-se o próprio tecido social, e não
só o prestígio pessoal do governante.
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