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São Paulo, segunda-feira, 07 de abril de 2003

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VALDO CRUZ

Santa paciência

BRASÍLIA - Um amigo jornalista, dia desses, recordou um artigo que publiquei neste espaço antes da campanha presidencial do ano passado. Nele, relatava que minha mãe havia decidido arriscar e votar em Luiz Inácio Lula da Silva.
Na época, resolvi contar o caso por ter ficado surpreso. Minha mãe era, até então, eleitora fiel dos tucanos. Votou em Fernando Henrique Cardoso nas duas eleições presidenciais. E não gostava dos petistas.
Meu amigo queria saber a avaliação dela sobre o governo Lula. Ligo para Belo Horizonte, onde mora. Diz não estar nem um pouco arrependida de ter votado no petista. Pelo contrário, afirma que repetiria o voto hoje, se fosse preciso.
Falo das decisões do governo Lula, do aumento dos juros, dos cortes no Orçamento, da demora em deslanchar o programa Fome Zero. "Ele entrou com força, a situação é que não ajuda. Ele quer fazer as coisas, mas não tem dinheiro", responde.
Encerra a conversa dizendo que é preciso ter paciência e dar um tempo para o presidente Lula da Silva. "Afinal, ele não tem condições de fazer milagres. Vai tudo melhorar."
O pensamento dela, pelas últimas pesquisas divulgadas, reflete o que pensa muita gente Brasil afora. Significa que, quase cem dias após a posse, Lula continua com um capital político alto, o que não é pouco.
Mas a paciência dessa gente não dura para sempre. Ficar apenas repetindo FHC na atenção extremada com a política macroeconômica e com as reformas constitucionais é bastante arriscado.
Nada contra comemorar a queda do dólar, da inflação, do risco Brasil. Muito pelo contrário. Mas falta mostrar o que será feito para distribuir renda, fazer setores da economia reagir, combater a desigualdade social. Tudo aquilo que o PT prometeu e ainda não cumpriu.
Sem falar que um soluço qualquer pode mudar o bom humor do mercado. Aí, haja paciência para suportar novos tempos de vacas magras.



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