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VALDO CRUZ
Santa paciência
BRASÍLIA - Um amigo jornalista, dia desses, recordou um artigo que publiquei neste espaço antes da campanha
presidencial do ano passado. Nele, relatava que minha mãe havia decidido arriscar e votar em Luiz Inácio
Lula da Silva.
Na época, resolvi contar o caso por
ter ficado surpreso. Minha mãe era,
até então, eleitora fiel dos tucanos.
Votou em Fernando Henrique Cardoso nas duas eleições presidenciais.
E não gostava dos petistas.
Meu amigo queria saber a avaliação dela sobre o governo Lula. Ligo
para Belo Horizonte, onde mora. Diz
não estar nem um pouco arrependida de ter votado no petista. Pelo contrário, afirma que repetiria o voto hoje, se fosse preciso.
Falo das decisões do governo Lula,
do aumento dos juros, dos cortes no
Orçamento, da demora em deslanchar o programa Fome Zero. "Ele entrou com força, a situação é que não
ajuda. Ele quer fazer as coisas, mas
não tem dinheiro", responde.
Encerra a conversa dizendo que é
preciso ter paciência e dar um tempo
para o presidente Lula da Silva. "Afinal, ele não tem condições de fazer
milagres. Vai tudo melhorar."
O pensamento dela, pelas últimas
pesquisas divulgadas, reflete o que
pensa muita gente Brasil afora. Significa que, quase cem dias após a posse, Lula continua com um capital político alto, o que não é pouco.
Mas a paciência dessa gente não
dura para sempre. Ficar apenas repetindo FHC na atenção extremada
com a política macroeconômica e
com as reformas constitucionais é
bastante arriscado.
Nada contra comemorar a queda
do dólar, da inflação, do risco Brasil.
Muito pelo contrário. Mas falta mostrar o que será feito para distribuir
renda, fazer setores da economia reagir, combater a desigualdade social.
Tudo aquilo que o PT prometeu e
ainda não cumpriu.
Sem falar que um soluço qualquer
pode mudar o bom humor do mercado. Aí, haja paciência para suportar
novos tempos de vacas magras.
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