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ANTONIO DELFIM NETTO
Descolando...
Na semana passada, houve uma
reconversão significativa na política econômica. Em 1990, no governo
Collor, reduziram-se as tarifas alfandegárias unilateralmente, medida perfeitamente razoável se fosse dentro de
um programa de desenvolvimento.
Simultaneamente, valorizou-se a taxa
de câmbio e se fez um corte dramático
da liquidez da economia. A grande
mudança "ideológica" introduzida
por aquele Governo consistia em
"desmontar" o Estado, dar ênfase ao
papel dos mercados e submeter o país
a um "choque" de produtividade!
O resultado de tal aventura todos
nós conhecemos. No período 1990/92:
1) o PIB caiu 4,6%;
2) o produto industrial caiu 12,7%;
3) a taxa de inflação caiu de 2.950%
em 1990 para 433% em 1991 e voltou a
aumentar para 950% em 1992;
4) a taxa de desemprego aberto iniciou um processo de aumento (de
3,3% em 1989 para 5,7% em 1992) e
nunca mais registrou redução. No
momento, anda em torno de 12%;
5) as exportações estagnaram. A média anual de US$ 31,5 bilhões em
1987/89 foi praticamente a mesma de
1990/92 (US$ 32,9 bilhões).
Collor foi substituído por Itamar
Franco, que moderou a fúria mercadista. Seu governo registra (para tristeza de muitos), o "último suspiro" de
desenvolvimento do Brasil. Em 1993/
94, crescemos à taxa média de 5,4%, e
o produto industrial recuperou-se em
13,8%, voltando ao nível devastado
por Collor. O balanço em conta corrente foi equilibrado, mas, infelizmente, a taxa de inflação continuou no nível de 2.000% anuais.
No governo Fernando Henrique
Cardoso, graças a um sofisticado plano de estabilização, foi possível aprofundar a fúria "liberal" de Collor! A
sua "filosofia" levou à venda às pressas
das estatais (o que não foi um mal em
si mesmo) para ajudar a financiar um
déficit em conta corrente de R$ 180 bilhões! A idéia era simples: uma vez estabelecida a estabilidade monetária e
"algemado" o Estado, o famoso "mercado" produziria a volta do desenvolvimento. A "ciência econômica" do
governo FHC era um pouco mais sofisticada do que a de Collor, mas com
o mesmo "viés ideológico".
O Brasil deve a Fernando Henrique
Cardoso alguns avanços importantes:
1º) a idéia que o equilíbrio fiscal é imprescindível e que, sem ele, não há como manter a estabilidade monetária;
2º) a prova quase de laboratório que o
equilíbrio monetário é apenas necessário, mas não suficiente para o desenvolvimento. Ele mesmo viu isso quando, num momento de lucidez, impôs
o Moderfrota aos seus financistas...
O pífio desenvolvimento do país nos
últimos dez anos é a prova concreta de
que, sem políticas públicas adequadas, o Brasil jamais voltará a crescer.
Nenhum país do mundo (nenhum!)
cresceu com a sinistra combinação de
"mercado" com Estado "algemado"!
Pois bem, na semana passada, graças à insistência do ilustre ministro
Luiz Fernando Furlan, tivemos o lançamento de um "esboço" de política
industrial que, levado a sério, aperfeiçoado e bem coordenado, poderá fazer a diferença de qualidade que tantos esperavam do governo do sr. Luis
Inácio Lula da Silva.
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
dep.delfimnetto@camara.gov.br
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