São Paulo, sábado, 07 de abril de 2007

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Deboche dos vereadores

EM SUA MAIS recente tentativa de arrebatar verbas públicas para contemplar interesses privados, a Câmara Municipal de São Paulo foi pródiga. Saiu-se com um "trem da alegria" que transfere ao contribuinte o pagamento dos salários de seus cabos eleitorais, cria 223 novos cargos e oferece jetons para servidores efetivos da Casa.
O novo ataque ao erário já foi aprovado em primeira votação. Houve apenas dois votos contrários, de Arselino Tatto (PT) e Ricardo Trípoli (PV). Se o projeto passar pelo segundo escrutínio, previsto para a semana que vem, irá à sanção do prefeito.
É especialmente grave a proposta de permitir que os assessores dos edis trabalhem em suas bases eleitorais -e não apenas na Câmara como exige a legislação vigente. Além do absurdo que é financiar interesses privados com dinheiro público, o projeto cria uma distorção política, ao proporcionar aos atuais vereadores uma vantagem eleitoral com a qual os demais candidatos não poderão contar.
Um ponto central da tão almejada reforma política brasileira é edificar barreiras ao clientelismo -o exato oposto do que faz a proposta da vereança paulistana. De resto, quando faltam verbas para setores tão vitais quanto a saúde e a educação, não faz sentido aumentar ainda mais as despesas do Legislativo da cidade.
Os vereadores não podem queixar-se de seu quinhão. Além dos vencimentos de R$ 7.155,00 que recebem mensalmente, têm direito a R$ 71.564,92 para gastar em salários e gratificações de até 18 assessores, 400 litros de combustível e várias centenas de reais em contas telefônicas, despesas de correio, impressos, fotocópias e cartões de visita.
Decerto a democracia não pode prescindir de legisladores. Mas é também válida a recíproca de que parlamentares não podem debochar do contribuinte.


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