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Chega de saudade
A candidata oficial erra ao voltar-se para o passado com o intuito de forjar uma revanche na disputa particular de FHC e Lula
EM SEU PRIMEIRO discurso
depois de deixar a Casa
Civil, a candidata Dilma
Rousseff insistiu na tentativa de comparar o atual governo com o anterior.
Não se sabe o que pesa mais
nessa estratégia enviesada, se a
obsessão íntima do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva de se
medir com o antecessor Fernando Henrique Cardoso ou a percepção de que é mais vantajoso
para a representante da situação
transformar eleições que decidem o futuro do país em avaliação de fatos passados.
Não é demais lembrar que um
brasileiro com 18 anos completados em 2010 comemorava 10 ao
término do governo FHC -e era
uma criança de dois anos quando
o sociólogo tucano assumiu.
Esse hipotético cidadão não terá idade para lembrar em que
país se vivia no início da década
de 90. Mas, se procurar informações, saberá que coube a FHC, na
sequência do impeachment de
Fernando Collor, e ainda no governo de Itamar Franco, lançar
um plano -depois de várias tentativas frustradas- capaz de superar o perverso ciclo hiperinflacionário que havia anos dilapidava a economia popular e impedia
o desenvolvimento do país.
Se pretende incursionar pelo
passado, poderia a candidata
lembrar a seus potenciais eleitores que o Partido dos Trabalhadores negou sustentação ao presidente Itamar Franco e bombardeou o Plano Real. Ou seja,
opôs-se de maneira pueril e ideológica a uma das mais notáveis
conquistas econômicas da história moderna do país, que propiciou aos brasileiros pobres benefícios inestimáveis, sob a forma
de imediato aumento do poder
aquisitivo e inédito acesso ao sistema bancário.
Sabe bem a ex-ministra que se
alguém nesses anos mudou de
pele foi antes o PT do que o
PSDB. O que terá sido a famosa
"Carta aos Brasileiros" senão
uma providencial e pública troca
de vestimenta ideológica do candidato Lula -que, eleito, sob
aplausos do mundo financeiro,
indicou um tucano para o Banco
Central (agora no PMDB) e um
ex-trotskista com plumagem
neoliberal para a Fazenda?
É um exercício vão buscar
comparações e escolhas plebiscitárias entre gestões que se encadeiam no tempo. Os avanços e
problemas de uma transformam-se em acúmulo ou em fatos
acabados na outra. Ou será que
faz sentido questionar como teria sido a gestão lulista se tivesse
de formular um plano para vencer a hiperinflação, precisasse
sanear instituições financeiras
públicas e se visse obrigada a estancar uma crise sistêmica dos
bancos privados nacionais?
O Brasil precisa pensar e agir
com olhos no futuro. Nada tem a
ganhar com a tentativa da candidatura governista de forjar uma
revanche de disputas pretéritas.
Se o presidente Lula não venceu
a contenda com Fernando Henrique Cardoso em 1994 não será
agora que o fará -pelo simples
motivo de que nenhum dos dois
é candidato. O governo que se
encerra neste ano teve méritos
inegáveis, mas muitos deles, é
forçoso reconhecer, nasceram de
sementes plantadas no passado.
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