São Paulo, terça-feira, 07 de maio de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Sobre energia
LUIZ PINGUELLI ROSA, ROBERTO D'ARAÚJO e MAURÍCIO TOLMASQUIM
Não pretendemos dar lições sobre o assunto, apenas lembrar que os contratos de concessão definem como obrigações das distribuidoras o atendimento qualificado e contínuo da sua demanda atual e futura. Lembramos que, desde 1995, pela lei 9.074, a responsabilidade da expansão, necessária ao cumprimento dessa cláusula, é de todos os agentes do mercado, distribuidoras inclusas. Os contratos assinados com as geradoras, que, por erro de avaliação e falta de investimentos, não puderam ser cumpridos por superavaliar a disponibilidade de energia, não isentam de culpa as distribuidoras, pois certamente a competência técnica para analisar os riscos desses entendimentos é um pressuposto para uma empresa exercer a concessão de um serviço público de tal importância. Certamente não são os consumidores os causadores de tal descompasso. Além disso, essas empresas são signatárias de relatórios do Operador Nacional do Sistema que, desde 2000, alertavam que "a demanda de energia elétrica vinha sendo atendida com energia interruptível" (relatório de abril de 2000), o que já caracteriza uma quebra de contrato com o consumidor. Evidentemente sabemos da familiaridade do ministro com conceitos tão tradicionais em qualquer serviço de energia elétrica digno de credibilidade. Pedimos licença para interpretar que sua pouca atenção por essas questões esteja associada às amarras do modelo mercantil no setor elétrico, equivocadamente adotado no Brasil, e do qual o governo não consegue se libertar, apesar dos evidentes fracassos. O restante da correspondência do ministro, uma vez qualificados os pontos cruciais acima mencionados, simplesmente advoga a favor do interesse dessas empresas. Comentá-los em nada resultaria, tais nossas diferenças. Podemos entretanto adicionar ainda uma questão: por que foram contratadas as usinas emergenciais a peso de ouro, se, sem elas, segundo o governo, o risco de déficit ficou dentro do previsto, após o fim da seca e com algumas termelétricas sendo ultimadas? Por fim, admitindo sua hipótese de que o candidato do PT venha a ocupar a Presidência da República, certamente estamos cientes das dificuldades nessa área energética, tal o desmonte realizado. Entretanto não teríamos tanta certeza de que as críticas são todas "fáceis" e advindas de "oportunistas de plantão". Luiz Pinguelli Rosa, 60, físico, é diretor da Coppe-UFRJ (Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Roberto Pereira d'Araújo, 54, engenheiro, é pesquisador do Instituto Virtual de Mudanças Globais da Coppe. Maurício Tiomno Tolmasquim, 42, engenheiro e economista, é coordenador do Programa de Planejamento Energético da Coppe. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Boaventura de Souza Santos: O novo espectro Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
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