São Paulo, domingo, 07 de maio de 2006

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IDENTIDADE DE OPOSIÇÃO

Q ue identidade deve assumir uma campanha oposicionista para tentar rivalizar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de outubro? Em torno dessa pergunta se digladiam, já com uma dose perceptível de drama, tucanos, pefelistas e peemedebistas não-alinhados ao governo. Uma resposta eficaz ainda não surgiu.
Não são apenas as performances nas pesquisas dos principais proponentes de oposição -por ora insuficientes para ameaçar o favoritismo do petista- que configuram essa ausência de tônus. O mais preocupante para um país que necessita debater seus problemas, a fim de melhorar o ambiente em que o eleitor decide seu voto, é a falta de um conjunto de idéias-força da oposição.
Não basta explorar os desmandos em série cometidos sob a gestão Lula, narrados sem maneirismos na denúncia do procurador-geral da República acerca do mensalão. A corrupção está entre os temas nacionais mais importantes; mas há outros igualmente prioritários -como a pobreza, a má distribuição de renda, a maldição do crescimento baixo, a violência nas grandes cidades, o péssimo ensino público- que não podem ser deixados de lado.
Uma imagem com pouca luz própria, a reagir pontualmente à agenda que vem do governo federal, é quase tudo o que oferece por ora o ex-governador paulista Geraldo Alckmin. O postulante tucano resvala vez ou outra no "choque de gestão" ou no corte de despesas públicas e de impostos. Mas sua administração pouparia recursos para fazer o quê? Um plano de educação que coloque crianças em tempo integral na escola? Um extenso programa habitacional? Um projeto de reforma da infra-estrutura das áreas metropolitanas?
Os tributos seriam cortados de maneira uniforme ou de acordo com um projeto para beneficiar certos setores empresariais e/ou sociais? Em que nicho da revolução tecnológica cujo passo o Brasil vai perdendo concentraria recursos públicos?
Nem se fale de Anthony Garotinho, o terceiro colocado nas pesquisas. Da fase em que pronunciava bordões vazios acerca de uma inflexão na política econômica passou à greve de fome. Que esperar de um candidato ao posto mais alto da República que reage dessa forma a denúncias acerca de seus fundos de pré-campanha? Difícil conciliar tal comportamento com o esperado de um estadista.
Enquanto isso, Lula, cuja plataforma eleitoral se resume a oferecer a continuidade, flana à vontade.


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