São Paulo, terça-feira, 07 de junho de 2011 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Quem precisa de energia-ameaça nuclear? JOÃO ALVES FILHO
O acidente de Fukushima deveria ser a pá de cal a sepultar projetos de geração nuclear de energia elétrica, não fossem os rumos da civilização guiados pela insensatez. Do ponto de vista da raridade de tais acidentes, o argumento da segurança na geração dessa energia não se sustenta. O professor de física da USP José Goldemberg afirma que, desde Chernobyl, inúmeros "incidentes" têm ocorrido e que "a probabilidade de acidentes maiores cresce com a proliferação das usinas". O descontrole dos fenômenos climáticos, por conta do aquecimento global, torna impossível garantir a manutenção, em equilíbrio permanente, de uma central nuclear com todo o lixo radioativo sob duvidoso controle, à distância do ambiente. Como não existe meio viável de descarte de resíduos e como não há garantia segura de isolar o material do ambiente por tanto tempo, até o decaimento da meia-vida dos elementos radioativos, é inconsequente espalhar tais elefantes brancos enquanto se transfere às futuras gerações a responsabilidade da manutenção. Apesar da raridade das catástrofes com termonucleares, as anomalias e incidentes com as centrais são comuns, provocando duradoura contaminação ambiental, a exemplo do que ocorreu em 2008 com usina nuclear francesa em Avignon, que despejou nos rios da região 30 m3 de líquido com urânio, contaminando até o lençol freático. O governo proibiu a população da cidade de Tricastin de beber a água desses rios ou de usá-la para irrigação e lacrou poços artesianos. Analisando a situação, avalia-se a insânia de o governo federal anunciar a implantação de usina às margens do rio São Francisco. Imagine-se ali um vazamento desse nível -o que não é impossível, já que ocorreu em centrais de diferentes países. A tragédia daí decorrente seria de tal ordem que o recente desastre japonês seria irrelevante, porquanto no mínimo 10 milhões de nordestinos abastecidos pelo rio migrariam, promovendo a maior diáspora do mundo. O Brasil tem situação privilegiada na geração elétrica barata, não poluente, renovável e sem riscos à população. Temos potencial invejável para gerar 260 mil MW por hidrelétricas, dos quais não mais de 30% foram utilizados; dispomos da cana, da qual produzimos o etanol com tal êxito que, juntamente com o bagaço, valioso subproduto, já participa com 18,2% do total da matriz energética, à frente dos 15,2% da energia hidráulica. Há ainda uma variada biomassa capaz de suprir a demanda por diesel, em montante sem similar no planeta -dendê, babaçu, mamona, soja etc. Mais: 140 mil MW potenciais de energia eólica, além da energia solar e de marés. É um verdadeiro crime de lesa-pátria admitir-se que, com a nossa fantástica riqueza de alternativas energéticas, necessitemos da construção de usinas nucleares para gerar energia cara, poluente, não renovável e de alto risco. JOÃO ALVES FILHO é engenheiro civil. Foi governador de Sergipe por três mandatos (1983-87, 1990-94 e 2003-06) e ministro do Interior, responsável pela área ambiental (gestão Sarney). É autor de, entre outros livros, "Transposição de Águas do São Francisco: Agressão à Natureza vs. Solução Ecológica". Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Hugo Studart: WikiLeaks para a ditadura Próximo Texto: Painel do Leitor Índice | Comunicar Erros |
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