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CARLOS HEITOR CONY
Do outro lado
RIO DE JANEIRO - Em recente documentário sobre o tráfego aéreo, fiquei
sabendo que a tecnologia se desenvolve em progressão geométrica, enquanto o elemento humano, baseado
em terra, progride pouco e, quando
progride, o faz em progressão aritmética. Em linhas gerais, o mesmo ocorre em outros setores, sobretudo no da
medicina, que, dia-a-dia, avança assombrosamente sobre as doenças, as
pesquisas e os equipamentos, não
apenas melhorando a qualidade mas
aumentando a expectativa de vida
de todos nós.
Contudo o elemento humano continua mais ou menos na mesma, sujeito ao estresse, a equívocos operacionais e até mesmo a certa tecnicidade que o transforma mecanicamente num operário que manipula
instrumentos, laudos, medicamentos
e estatísticas.
A tecnologia e a ciência praticamente já garantem um tipo de vida
quase eterna. Monitorado, congelado, reduzido ao seu complexo químico e biológico, o ser humano, se não
chegou ainda a ser imortal, mesmo
sem entrar para a ABL, pode viver indefinidamente, dentro de circunstâncias determinadas pela técnica e pela
ciência.
No entanto o entorno da moderna
medicina tem alçapões que são considerados, profilaticamente, como
"acidentes de percurso". É a infecção
hospitalar, da qual nem os melhores
centros médicos estão isentos, a troca
de laudos e, algumas vezes, a troca de
medicamentos, a carga horária dos
profissionais de saúde que não podem ser substituídos por aparelhos e,
em caso mais raros e lamentáveis, o
puro, o elementar, o inevitável erro
humano.
Acho gozado quando vejo um filme
cuja história se passa em séculos remotos. Alguém adoece ou se acidenta, chamam o médico, que vem, geralmente numa charrete, trazendo
uma valise triangular, um termômetro e um relógio tipo cebolão para
contar as batidas cardíacas do paciente.
Se eu vivesse naquele tempo, há
muito já estaria do outro lado.
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