São Paulo, sexta-feira, 07 de julho de 2006

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ELIANE CANTANHÊDE

Lula saiu de fininho

BRASÍLIA - Está explicado por que Lula desistiu de passar dois dias em Caracas, ficou poucas horas e voou de volta à meia-noite: ele fugiu da festa dos 195 anos da Venezuela, em que Chávez defendeu uma força armada comum, bolivariana, para a América do Sul.
O pretexto de Lula foi o de que não poderia participar de inaugurações contrárias à lei eleitoral. Na verdade, temia o desfile militar de Chávez, com aviões Sukhoi-30 e fuzis Kalashnikov, ambos russos, e o velho discurso "à la Fidel" contra "ameaças à pátria e à soberania".
Lula saiu de fininho, e o desfile de Chávez foi prestigiado por Kirchner (Argentina), Evo Morales (Bolívia) e Nicanor Duarte (Paraguai).
Chávez é tutor de Morales -que causa prejuízos à Petrobras-, compra títulos da dívida argentina e vai comprar os da paraguaia, depois de Duarte acusar Argentina e Brasil de "egoístas e hipócritas".
Ou seja: Chávez levou para o palanque os presidentes que se ajustam melhor a seu plano de expansão e se aproximam mais da Venezuela do que do Brasil -que tem mais de 70% do PIB e dos habitantes do Mercosul, já com a Venezuela. Lula tinha duas opções: ir e ser mais um coadjuvante de Chávez ou arranjar uma desculpa e voltar logo para Brasília. Optou bem.
Agora, é evitar novas surpresas. Quando Morales passou a rasteira no Brasil, Planalto, Itamaraty e Petrobras não tinham idéia do tamanho do tombo. Convém ficar de olho em Kirchner e em Duarte -que, claramente, já escolheu seu líder no Mercosul. E não é Lula.
Depois de ameaçar a Colômbia, de trocar desaforos com o presidente eleito do Peru e de fustigar Evo Morales contra o Brasil, Hugo Chávez vem aí, com direito a voto e estridência no Mercosul. A entrada da Venezuela foi para "agregar". Mas o perfil de Chávez, convenhamos, não é nada agregador.


elianec@uol.com.br

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