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FERNANDO GABEIRA
Imagens do pântano
SEMANA cheia de estímulos:
200 anos de Giuseppe Garibaldi, 40 anos de uma guerra
que impulsionou o crescimento do
fundamentalismo, conversa em
Porto Alegre com Timothy Gordon
Ash sobre os rumos do mundo...
Tanta coisa, para voltarmos ao
grotesco espetáculo no Senado.
Renan Calheiros, isolado, decide
resistir até o último momento.
O único ponto de apoio de Renan
é o governo de esquerda. É uma
aliança equivocada, pois ninguém
pensava em atingir o governo. Ao
contrário, todos acreditam que sua
saída significa a recuperação do
equilíbrio, num nível superior de
estabilidade.
Como explicar a disparidade de
visões? A esquerda, com CUT,
UNE e MST, está fora da luta contra a corrupção. Não podem imaginar os prejuízos estratégicos dessa
escolha. Confirmam para os historiadores que a esquerda sempre teve um duplo padrão. Há os direitos
humanos nossos e os direitos humanos de nossos inimigos, há os
nossos corruptos e os corruptos
deles. Certa vez falei que, num país
europeu, ele teria renunciado. Injustiça com o Brasil. Renan e seu
apego ao cargo representam um retrocesso em nossa própria história.
No governo Itamar Franco, quando havia indícios e investigação
contra um ministro, ele saía até
que o caso fosse concluído.
De um ponto de vista político,
Renan Calheiros está morto. Deveria ler o "Livro Tibetano dos Mortos", em que o conselho é de partir
rápido, não insistir em ficar entre
os vivos, pois essa rapidez favorece
a reencarnação.
São grandes os indícios de que
tenha perdido a lucidez. E os que
esperam uma solução muito fácil
para esse caso terão de reavaliar.
Não se trata de um político com visão de futuro, mas de alguém se
afogando com a vontade de levar o
mundo com ele.
Será um pouco mais longo do
que desejamos. Liguei do Sul para
um senador para saber da situação,
ele disse: "A cada fim de semana,
compreendemos que é preciso retirá-lo da cadeira".
O que acontece nos fins de semana? Eles travam contato com o
mundo real, andam pelas ruas,
conversam com os eleitores, sentem o pulso em casa, ouvem relatos
de filhos estudantes.
Tudo isso mostra que a imagem
de Renan se afogando talvez não
seja a mais adequada. Um pântano
de areia movediça talvez descreva
melhor o processo. A cada dia, ele
se debate, a cada dia afunda um
pouco mais. Enquanto estiver com
os ouvidos de fora, as pessoas continuarão gritando.
É certamente um dos casos mais
patéticos de abismo entre a dimensão do cargo e a de seu ocupante.
assessoria@gabeira.com.br
FERNANDO GABEIRA escreve aos sábados nesta
coluna.
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