São Paulo, segunda-feira, 07 de julho de 2008

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Editoriais

Clima de negociação

Reunião do G8 no Japão pode registrar avanço na questão do aquecimento global; Brasil e China já emitem sinais positivos

A REUNIÃO DO G8 que começa hoje no Japão, se não for monopolizada pela crise econômica internacional, tem chances de registrar algum avanço no segundo ponto mais importante da pauta, o aquecimento global. O governo do país anfitrião persegue com afinco esse objetivo.
Tal empenho não constitui garantia de sucesso. Isso ficou patente na Alemanha durante a última reunião dos sete países mais ricos e a Rússia, há um ano. A proposta da chanceler Angela Merkel de cortar em 50% as emissões de gases do efeito estufa até 2050 terminou derrotada.
Movimentações recentes no bloco de cinco nações emergentes convidadas - África do Sul, Brasil, China, Índia e México, o G5-, contudo, sugerem que um acordo mundial para conter o aquecimento global pode começar a sair do presente impasse.
Os 13 países concentram quase três quartos das emissões mundiais. Qualquer passo adiante dado por eles facilitaria a negociação internacional de um acordo pós-Kyoto. Ela deve ser finalizada até dezembro de 2009, mas se encontra hoje paralisada pelo embate entre nações emergentes, como China, Índia e Brasil, e os EUA, que exigem delas a adoção de metas de redução.
Partiu do Brasil, quarto emissor mundial por força do desmatamento, um dos sinais positivos. O presidente Lula, em entrevista ao diário japonês "Yomiuri Shimbun", admitiu pela primeira vez que nações do G5 e outras menos desenvolvidas poderiam assumir compromissos contra o aquecimento global. "O cumprimento de metas quantitativas tem de ser proporcional à responsabilidade de cada país: quem mais polui tem metas maiores, e quem menos polui tem metas menores", disse.
Um dia depois, partiu da China -segundo maior emissor, atrás dos EUA- outra manifestação discreta de flexibilidade. Su Wei, da direção da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma (órgão máximo de planejamento), assim como Lula, reafirmou em entrevista o princípio da responsabilidade diferenciada dos países ricos. Mas disse que a China está aberta para debater metas de médio e longo prazo.
Uma interpretação possível é que os chineses já considerem assumir compromissos para 2050, se os países desenvolvidos admitirem metas mais drásticas para 2020. Caso a Índia faça aceno similar, os EUA ficariam ainda mais isolados em seu obstrucionismo, posição que de resto deve ser abrandada após a eleição presidencial de novembro.
Outra idéia capaz de fazer a negociação avançar vem dos anfitriões. O Japão passou a investir em eficiência energética já na década de 1970 e hoje tem a melhor relação entre PIB e emissões, ou seja, quanto carbono é emitido para cada dólar produzido. Sugere que seus níveis de desempenho sirvam de base para metas de redução de emissões por setores da indústria mundial, não por país, criando amplo mercado para suas tecnologias limpas.
Se a reunião do G8+5 puder avançar nalguma dessas direções inovadoras, pouco que seja, concluir em 17 meses um novo acordo mundial sobre o clima parecerá bem menos irrealizável.


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