São Paulo, segunda-feira, 07 de julho de 2008

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

O tucano e o papagaio

SÃO PAULO - Alckmin e dona Lu tomam café da manhã. Com a fisionomia ainda marcada pelo sono, ela sorri, distribuindo simpatia. Atrás dela, um pouco à esquerda sobre o encosto da cadeira, o papagaio do casal tem o rosto virado para o tucano, que parece retribuir o olhar.
Tem-se a impressão de que Zé Carioca e Alckmin conversam, compenetrados. O ambiente de classe média retratado pela foto na Folha de ontem lembra um cenário de novela, de tão típico. Se o tucano tivesse não um papagaio, mas um cachorro, seu nome seria Rex.
Podemos imaginar a conversa entre Alckmin e Zé Carioca com o resultado do Datafolha na mão:
- Eu falei, Zé, não quiseram me escutar. Com o PT não se brinca. Subestimaram o poder de fogo deles, agora a mulher taí, com 38%. E quem pode derrotá-la? Só eu, Zé, mais ninguém. Quero ver agora o que o outro Zé, o Serra, vai fazer. O candidato dele tá lá, empacado nos 13%. Kassab é inviável, eu avisei, Zé. Vão continuar brincando? Será que querem perder a eleição?
Zé Carioca poderia lembrar a Alckmin o que ele mesmo dizia quando estava lá embaixo nas pesquisas, em eleições passadas: a campanha só começa de verdade depois do horário gratuito na TV. Sim, pode ser, mas Kassab não precisa do papagaio para saber que sua situação ficou preta.
O prefeito está montado numa máquina de guerra: tem o respaldo da turma do governador, muito mais dinheiro e o dobro do tempo de exposição na TV em relação ao rival tucano. É quase certo que cresça alguma coisa. Mas sua tarefa é inglória: tirar, em menos de três meses, 18 pontos de vantagem de um adversário cuja taxa de rejeição (18%) é bem mais baixa que a dele, Kassab -30%, como a de Marta.
Polarizado como está entre PT e PSDB, o quadro eleitoral deve obrigar Serra a tirar pelo menos um pé da canoa de Kassab para colocá-lo no barquinho alckmista. Os kassabistas do PSDB estão condenados a um dilema shakespeariano: ser ou não ser Zé Carioca, eis a questão.


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