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ANTONIO DELFIM NETTO
Keynes e keynesianos
Os problemas fiscais dos
EUA e da Eurolândia só podem ser resolvidos com a volta
do crescimento. O fundamental é que este não se faça aprofundando-os ainda mais.
Quando se recomenda que
as medidas de estímulo temporárias que foram decisivas
para paralisar o desastre sejam transformadas em permanentes, estamos diante de
uma não solução.
Para entender isso consideremos que no curto prazo a
oferta global física de bens e
serviços produzidos no país é
praticamente constante. O seu
uso depende da demanda global física. Esta, por sua vez, é
constituída pela soma da demanda pública e da demanda
privada interna e externa.
Quando se reduz, por qualquer motivo, a demanda privada (crise de crédito, desastres naturais, ataque de pessimismo), a manutenção do nível de atividade depende de
um aumento equivalente da
demanda pública.
Enquanto a demanda privada não se recupera, a demanda pública deve continuar. Isto não se faz sem graves prejuízos para o equilíbrio fiscal,
para o nível de inovação e a
produtividade do sistema produtivo, porque a demanda estimulada pelo gasto público
em transferência não produz
incentivos adequados para o
aumento da produtividade do
trabalho.
O keynesianismo bastardo
incorporado na síntese neoclássica dos livros-texto sugere que a retirada dos "estímulos" governamentais reduzirá
necessariamente a demanda
privada. Agravar-se-ia, portanto, a redução do nível do
PIB e do emprego. Logo, não
há solução para o problema.
Mas será assim mesmo?
A resposta se resume na
"expectativa" que se formará
no setor privado como resposta ao programa de restabelecimento do equilíbrio fiscal
(condição necessária para o
crescimento robusto no longo
prazo).
Keynes e Pigou (seu amigo e
posterior vítima) intuíram em
1931 que, se o ajuste fosse feito
de maneira segura e crível, o
aumento da demanda privada
(despertada pelas oportunidades vistas pelo "espírito animal" dos investidores) poderia suprir a deficiência da demanda pública.
Teríamos a
volta do crescimento juntamente com a solução do problema fiscal, o que é hoje empiricamente reconhecido.
A reforma crível inclui: 1)
um ajuste pelo lado das despesas (nada de aumento de impostos); 2) incentivos ao uso
do trabalho; 3) medidas de flexibilização dos mercados; 4)
estímulo à concorrência e 5)
uma desvalorização cambial.
A Alemanha acumula credibilidade e essas condições.
Com a desvalorização do euro,
seu programa levará, provavelmente, a um crescimento
mais robusto. Será a melhor
contribuição que pode dar à
Eurolândia.
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às
quartas-feiras nesta coluna.
contatodelfimnetto@uol.com.br
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