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São Paulo, quinta-feira, 07 de agosto de 2003

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VINICIUS TORRES FREIRE

Terapia para o caos mental

SÃO PAULO - 1. Tinha de ser um país bem reacionário, como o Brasil, para alguém dizer que uma dúzia de protestos -legais ou ilegais, não vem ao caso, neste caso- é "baderna", "caos social" (o que é caos social? O ministério da Benedita e do Fome Zero?), "ameaça ao direito de propriedade e desestímulo ao investimento privado", essas cascatas.
2. Alguém vai deixar de investir em usina elétrica, estrada, telefone etc. por causa dessa microrrevolta dos farrapos? Vai nada. Não investem porque não há norma decente para o investimento, porque o investidor ainda tenta arrancar caraminguás do público nos novos contratos e porque o país não cresce. Por que investir se ninguém vai comprar?
3. O governo Lula não sabe lá como estimular a economia, o ministério é fraco, projetos não saem do papel, não disse a que veio em educação e em saúde e dá vexames ideológicos. Mas aprovou essas mudanças na Previdência com só uns 10% de dissidência política (é gorjeta) e sem ceder em termos de dinheiro grande. Esse caso do teto do Judiciário é mixaria.
Mas dizer que do Congresso saiu uma reforma é exagero. Saiu alguma mudança necessária, mas só conservadora, como FHC queria. Ninguém discutiu a sério que Estado se quer nem a redivisão dos fundos sociais.
4. Está certo que o Banco Central tem de parar com a pose boba de BC alemão e cortar com mais vontade os juros, que bateram mais rápido e mais feio do que se previa na produção. Mas as mesmas pessoas para quem FHC quebrou o país dizem que é só baixar juro que o país cresce de novo. Uai, se o país quebrou, como pode crescer tão cedo? A coisa foi feia mesmo no ano passado. Se a economia não encolher neste ano, o tucanismo de direita vai sair barato.
5. Até outubro, ao menos, haverá barulho. A economia estará parada ou caindo, haverá votações sérias no Congresso, há um novo comando nos movimentos sociais, desemprego em penca. Mas isso tudo é só um pouco de democracia em país pobre e em crise. Não é para espantar, não.


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