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VINICIUS TORRES FREIRE
Terapia para o caos mental
SÃO PAULO - 1. Tinha de ser um país bem reacionário, como o Brasil, para
alguém dizer que uma dúzia de protestos -legais ou ilegais, não vem ao
caso, neste caso- é "baderna", "caos
social" (o que é caos social? O ministério da Benedita e do Fome Zero?),
"ameaça ao direito de propriedade e
desestímulo ao investimento privado", essas cascatas.
2. Alguém vai deixar de investir em
usina elétrica, estrada, telefone etc.
por causa dessa microrrevolta dos
farrapos? Vai nada. Não investem
porque não há norma decente para o
investimento, porque o investidor
ainda tenta arrancar caraminguás
do público nos novos contratos e porque o país não cresce. Por que investir
se ninguém vai comprar?
3. O governo Lula não sabe lá como
estimular a economia, o ministério é
fraco, projetos não saem do papel,
não disse a que veio em educação e
em saúde e dá vexames ideológicos.
Mas aprovou essas mudanças na
Previdência com só uns 10% de dissidência política (é gorjeta) e sem ceder
em termos de dinheiro grande. Esse
caso do teto do Judiciário é mixaria.
Mas dizer que do Congresso saiu
uma reforma é exagero. Saiu alguma
mudança necessária, mas só conservadora, como FHC queria. Ninguém
discutiu a sério que Estado se quer
nem a redivisão dos fundos sociais.
4. Está certo que o Banco Central
tem de parar com a pose boba de BC
alemão e cortar com mais vontade os
juros, que bateram mais rápido e
mais feio do que se previa na produção. Mas as mesmas pessoas para
quem FHC quebrou o país dizem que
é só baixar juro que o país cresce de
novo. Uai, se o país quebrou, como
pode crescer tão cedo? A coisa foi feia
mesmo no ano passado. Se a economia não encolher neste ano, o tucanismo de direita vai sair barato.
5. Até outubro, ao menos, haverá
barulho. A economia estará parada
ou caindo, haverá votações sérias no
Congresso, há um novo comando nos
movimentos sociais, desemprego em
penca. Mas isso tudo é só um pouco
de democracia em país pobre e em
crise. Não é para espantar, não.
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