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ELIANE CANTANHÊDE
A fita
BRASÍLIA - Em meio à avalanche
de informações e contrainformações, uma acusação feita por Sarney
no longo discurso de quarta passou
quase despercebida: a de que "fraudaram a fita que distribuíram e incluíram o meu nome com a voz de
uma outra pessoa...". Mas quem
fraudou e distribuiu?
Ele se baseou num parecer do perito Ricardo Molina para o empreiteiro Zuleido Veras, da Gautama,
que foi preso pela PF por suspeitas
diversas, inclusive de superfaturamento de obras públicas.
O parecer tem serventia tanto para Sarney quanto para Zuleido.
Conclui que uma fita gravada pela
PF, em operações que ora pegam o
construtor, ora é o filho de Sarney e
ora misturam os dois, contém enxertos e o que Sarney e Veras chamam de "montagens".
A fita é da investigação de fraudes
em obras no aeroporto de Macapá,
e Veras diz, mais ou menos, que tudo vai dar certo porque Sarney está
por trás do projeto. E a PF atribui a
Veras a seguinte frase: "Vou chegar
na casa do Sarney, já, já".
Molina fala explicitamente em
"montagem" no seu parecer, sendo
incisivo quanto ao trecho em questão: "não é a voz do interlocutor que
se identifica como "Zuleido" na conversação telefônica". E Sarney e Zuleido Veras juram que o construtor
nunca foi à casa do senador.
Da tribuna, Sarney indignado
perguntou: "Se foi feito isso, quantas dessas gravações que publicaram aí não foram montadas? Quantas? E onde foram montadas?
Quem é responsável por isso?".
Para salvar a própria pele, ele
acusa a imprensa de fazer campanha contra, acena com dossiês contra senadores da oposição e manda
processar deputado do PT. A PF
também entrou na linha de tiro?
Todas as perguntas devem ser
respondidas pela PF e pelo Ministério da Justiça. Para não parecer que
Sarney é simultaneamente defendido com unhas e dentes por Lula e
perseguido pela PF, que o presidente é quem comanda, até com fitas
fraudadas. E aí?
elianec@uol.com.br
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