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JOSÉ SARNEY
Paus-d'arco em flor
QUANDO A luta política se organizou nas sociedades modernas, os cientistas sociais
procuraram desvendar as leis que a
governam.
Marx sintetizou a mais forte delas quando iniciou o famoso "Manifesto Comunista", dizendo que
"a história de todas as sociedades
modernas é a história da luta de
classes". Isso levou várias gerações
a viverem sob o signo de duas palavras: "revolução" e "revolta". A primeira como uma manifestação coletiva, a segunda como um manifestação pessoal.
Tudo isso é passado, e o mundo é
outro, se sabendo que a concepção
de classes é uma teoria que não resiste à realidade. Apenas os institutos de pesquisa resistem, considerando classes A, B, C e D, mais por
motivos econômicos de renda do
que por motivos sociológicos.
A grande novidade que permeia
hoje o conflito político é o novo interlocutor da sociedade democrática: a opinião pública. Outros integrantes dela são a mídia, com as novas técnicas de comunicação em
tempo real, a sociedade organizada
e as ONGs. A democracia representativa já era, e temos de descobrir
como vamos institucionalizar essa
nova realidade.
Daí a luta contra os políticos, levados à parede numa situação de
parasitas da sociedade, como se o
mais ético e oportunista fosse falar
que a verdadeira vontade do povo é
"a voz das ruas". E hoje as ruas não
têm mais gente, e sim uma massa
que está preocupada com transporte, emprego, renda e tempo para um pequeno lazer.
O conflito político passou da
guerra de classes para a guerra da
mídia. Nesta guerra, o mais ativo e
o mais importante meio é a internet. É aí que reside o verdadeiro
embate numa luta de versões, ataques, defesa, notícias e contranotícias, que são digeridas a todo momento -e são tantas as verdades
que ao final não se sabe qual é a
verdade.
Como o poder econômico sempre acompanha a força de controle
da opinião pública, é na internet
que existem as maiores fortunas do
mundo, e profetiza-se que neste nicho estarão no futuro os maiores
donos do dinheiro. A revolução do
smartphone, recebendo e-mail,
torpedos, notícias e fazendo tudo, é
uma mudança que não se sabe onde vai dar.
A ameaça de destruição
atinge os livros e até os jornais. Li
uma entrevista do dono do "El
País", que, indagado se o jornal iria
existir daqui a dez anos, disse não
ter certeza e que já se preparava para grandes transformações.
Assim, direito de resposta, proteção à imagem são direitos que
também vão desaparecer, porque
qualquer site destruirá qualquer
um com sua capacidade de reprodução em milhões. Lembremos o
nosso poeta "resistir quem há de?".
Enquanto discutimos essas coisas, a natureza floresce e Brasília
está linda, os paus-d'arco em flor.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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