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O FOSSO
O Congresso Nacional retomou
suas atividades esta semana, depois
do recesso de julho. Retomou apenas
formalmente, pois o próprio presidente da Câmara, deputado Michel
Temer (PMDB-SP), afirmou logo no
primeiro dia de trabalho que não iria
"disfarçar" a dificuldade de reunir
parlamentares em Brasília nos meses
que antecedem a eleição.
É uma tradição da política brasileira: no segundo semestre de ano eleitoral, o Legislativo Federal pára, ou
permanece funcionando numa espécie de piloto automático, evitando
votar qualquer questão mais polêmica ou relevante para o país. É até
compreensível, mas não justificável,
que parlamentares estejam mais envolvidos com as campanhas em seus
Estados, embora, mesmo sem trabalhar, continuem recebendo salários
pagos com dinheiro público. Seria
menos grave se congressistas não
faltassem com seus compromissos
também fora do período pré-eleitoral, como sói acontecer.
Tanto em julho de 97 como em janeiro deste ano foram necessárias
convocações extraordinárias do Legislativo, consequência do não-cumprimento da agenda de períodos anteriores. Nos dois casos, foi grande a
ausência de parlamentares também
durante essas convocações.
Como de hábito, congressistas continuaram se comportando de maneira omissa -e não faltaram os exemplos deploráveis de corporativismo,
fisiologismo e de escândalos envolvendo parlamentares.
Agora, com as eleições, o país deve
entrar num período de vácuo legislativo. Não deixa de ser sintomático
que a notícia mais importante vinda
do Congresso esta semana seja o
anúncio de um fosso com água que
será construído em torno do Parlamento para evitar tumultos e manifestações agressivas contra a instituição. Justificável em suas intenções,
essa obra soa como uma metáfora da
distância que ainda há entre o Congresso e o que espera dele o país.
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