São Paulo, sexta, 7 de agosto de 1998

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O FOSSO

O Congresso Nacional retomou suas atividades esta semana, depois do recesso de julho. Retomou apenas formalmente, pois o próprio presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), afirmou logo no primeiro dia de trabalho que não iria "disfarçar" a dificuldade de reunir parlamentares em Brasília nos meses que antecedem a eleição.
É uma tradição da política brasileira: no segundo semestre de ano eleitoral, o Legislativo Federal pára, ou permanece funcionando numa espécie de piloto automático, evitando votar qualquer questão mais polêmica ou relevante para o país. É até compreensível, mas não justificável, que parlamentares estejam mais envolvidos com as campanhas em seus Estados, embora, mesmo sem trabalhar, continuem recebendo salários pagos com dinheiro público. Seria menos grave se congressistas não faltassem com seus compromissos também fora do período pré-eleitoral, como sói acontecer.
Tanto em julho de 97 como em janeiro deste ano foram necessárias convocações extraordinárias do Legislativo, consequência do não-cumprimento da agenda de períodos anteriores. Nos dois casos, foi grande a ausência de parlamentares também durante essas convocações.
Como de hábito, congressistas continuaram se comportando de maneira omissa -e não faltaram os exemplos deploráveis de corporativismo, fisiologismo e de escândalos envolvendo parlamentares.
Agora, com as eleições, o país deve entrar num período de vácuo legislativo. Não deixa de ser sintomático que a notícia mais importante vinda do Congresso esta semana seja o anúncio de um fosso com água que será construído em torno do Parlamento para evitar tumultos e manifestações agressivas contra a instituição. Justificável em suas intenções, essa obra soa como uma metáfora da distância que ainda há entre o Congresso e o que espera dele o país.



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