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Contrato de risco
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - No pacote trabalhista que
anunciou ontem, o governo incluiu
uma medida provisória regulamentando o "trabalho a tempo parcial".
Significa a possibilidade de contratos de jornada reduzida, com salário,
férias, 13º e outros benefícios proporcionais. Ou seja, menores.
Justificativa oficial: aumentar a
oferta de empregos, especialmente para os jovens que estudam e para as
mulheres que têm filhos pequenos.
Temor geral: que os favorecidos não
sejam os trabalhadores, mas os patrões. Eles podem reduzir contratualmente salários e benefícios, mantendo
na prática as mesmas e suadas horas.
O temor é mais do que justificado,
porque a correlação de forças sempre
favoreceu os patrões e agora mais ainda. O desemprego chega a 7,9% (taxa
do IBGE para junho) e não há previsão de significativas quedas de juros
ou outras medidas macroeconômicas
que dêem um refresco.
FHC presidiu a solenidade de anúncio do pacote ladeado por cinco ministros. Em discurso, justificou que o Brasil de hoje (e junto com ele o seu governo) é vítima de um "gargalo".
Explicou: as taxas de natalidade
vêm diminuindo (estão entre 1,2% e
1,3%), mas é justamente agora que
chegam ao mercado de trabalho os jovens nascidos há 20 anos, quando a
natalidade batia em 3%. Juntem-se a
eles as mulheres, que já passam de
40% da força de trabalho.
Tudo muito bom. Mas a redução da
jornada, justificada pela necessidade
de garantir renda a mulheres e jovens,
é um paliativo e deixa dúvidas.
Uma é formal. Por que editar uma
MP criando o que fora criado antes?
Segundo o ministro Edward Amadeo,
foi "simplesmente para esclarecer as
empresas, para elas fazerem o que já
era permitido".
Outra, real. Por que não foram estabelecidos limites percentuais para os
empregados de jornada reduzida? De
uma tacada, um patrão poderá reduzir o horário de trabalho -e a folha
de pagamentos- de toda a empresa.
"É um risco", admitiu Amadeo. Resultado: só nos resta rezar.
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