São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2008

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SERGIO COSTA

Tem macumba no grampo

RIO DE JANEIRO - O pessoal que trabalha com grampos -digamos- não-autorizados está impressionado como a turma do andar de cima no Rio é chegada à macumba. Nas horas e mais horas de abobrinhas colaterais captadas em campanas auditivas, o assunto mais recorrente são "trabalhos" feitos e desfeitos contra desafetos ou para trazer de volta a pessoa amada. Rico sofre.
Quando os arapongas vigiam os telefones de um -digamos de novo- banqueiro em endereço chique da zona sul, todo o prédio acaba grampeado. E aí o que mais se ouve, em vez de tenebrosas transações, são inquietações com "despachos" e "mau-olhado". Os bacanas freqüentam mais terreiros do que calcula o IBGE. Alguns têm até "personal" pai-de-santo. A arapongagem se diverte nas horas vagas ouvindo as gravações indiscretas da elite. Viraram uma espécie de paparazzi das linhas cruzadas.
Joga-se para a torcida com essa discussão "oficial" sobre grampos.
Pura hipocrisia. Há anos as polícias de todos os níveis grampeiam Deus e todo o mundo -legal e ilegalmente. Há fartura de escutas privadas.
Não faltam no mercado aparelhos de espionagem para qualquer fim.
Paredes têm ouvidos, sim.
Privacidade acabou. Quanto mais tecnologia, menos possibilidades de se guardar um segredo -seja pessoal [como as macumbas de amor da burguesia de Ipanema], profissional, político ou criminoso.
Os recursos que fascinam os consumidores voltam-se contra eles mesmos. Teleconferências, "siga-me", chamadas em espera abrem janelas para abelhudos em algum ponto da linha. Ouvem-se coisas.
Nada resiste a um grampo: casamentos, sociedades, negócios ou alianças políticas. Portanto, cuidado: tudo o que disser ao telefone poderá ser usado contra você. E depois não vai adiantar se explicar.

sergioqc@uol.com.br


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