São Paulo, terça-feira, 07 de setembro de 2010

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CARLOS HEITOR CONY

Satã entre nós

RIO DE JANEIRO - Diversas vezes comentei neste espaço que os recentes episódios da política nacional continuam dando motivo para a indiferença (ou o nojo) de grande parte da população.
Algumas vezes, tenho a impressão de que estou cuspindo no prato em que como, embora não sendo político e não gostando dela, eventualmente comente as suas mazelas no exercício de uma profissão que não escolhi, mas que exerço há alguns anos.
Acontece que não sou o único homem na história da humanidade que pensa assim. Santo Agostinho, séculos atrás, dizia que a política é o demônio. Considerava-a a desgraça da condição humana.
Na raiz da fábula religiosa que criou o mundo, Lúcifer, o mais belo dos anjos, quis se igualar em poder a seu criador. Tentou um golpe de Estado no reino dos céus e deu no que deu. Se a lenda é verdadeira, foi o primeiro fato político da história.
Na atualidade, os dossiês funcionam como armas letais da campanha eleitoral: o demônio está solto. Há dossiês de todos contra todos -alguns macetados, outros nem tanto, mas cada um deles revelando o dedo diabólico da chantagem, da intimidação, do "faz isso senão eu conto".
Nas eleições de 1989, a revelação de que Lula tinha uma filha fora do tálamo oficial perturbou o candidato de tal modo que ele foi vencido por Collor no confronto decisivo da televisão.
Ter um rebento assim é mais ou menos comum entre os personagens de nossa vida pública. O próprio Collor -ficou-se sabendo depois- também tinha. E outros executivos do topo de nossa República contribuíram para a explosão demográfica, procriando nas mesmas condições.
A questão fica por conta da oportunidade em que os dossiês são ameaçados, feitos e distribuídos à mídia -e tudo fica mesmo por conta do diabo.


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