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CARLOS HEITOR CONY
Satã entre nós
RIO DE JANEIRO - Diversas vezes
comentei neste espaço que os recentes episódios da política nacional continuam dando motivo para
a indiferença (ou o nojo) de grande
parte da população.
Algumas vezes, tenho a impressão de que estou cuspindo no prato
em que como, embora não sendo
político e não gostando dela, eventualmente comente as suas mazelas no exercício de uma profissão
que não escolhi, mas que exerço há
alguns anos.
Acontece que não sou o único
homem na história da humanidade
que pensa assim. Santo Agostinho,
séculos atrás, dizia que a política é
o demônio. Considerava-a a desgraça da condição humana.
Na raiz da fábula religiosa que
criou o mundo, Lúcifer, o mais belo
dos anjos, quis se igualar em poder
a seu criador. Tentou um golpe de
Estado no reino dos céus e deu no
que deu. Se a lenda é verdadeira, foi
o primeiro fato político da história.
Na atualidade, os dossiês funcionam como armas letais da campanha eleitoral: o demônio está solto.
Há dossiês de todos contra todos
-alguns macetados, outros nem
tanto, mas cada um deles revelando o dedo diabólico da chantagem,
da intimidação, do "faz isso senão
eu conto".
Nas eleições de 1989, a revelação
de que Lula tinha uma filha fora do
tálamo oficial perturbou o candidato de tal modo que ele foi vencido
por Collor no confronto decisivo da
televisão.
Ter um rebento assim é mais ou
menos comum entre os personagens de nossa vida pública. O próprio Collor -ficou-se sabendo depois- também tinha. E outros executivos do topo de nossa República
contribuíram para a explosão demográfica, procriando nas mesmas
condições.
A questão fica por conta da oportunidade em que os dossiês são
ameaçados, feitos e distribuídos
à mídia -e tudo fica mesmo por
conta do diabo.
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