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CLÓVIS ROSSI
Virou Fla-Flu
SÃO PAULO - Desde o início da campanha eleitoral, um comentário de
amigo espanhol ficava indo e voltando da memória. Pouco antes das eleições na própria Espanha, em março,
esse amigo dizia que a política estava
reduzida à dimensão de um clássico
de futebol (no caso, claro, Real Madrid x Barcelona).
A camisa podia ser diferente, a tática também, o time poderia ser melhor em um dado momento, pior em
outro, mas o jogo era sempre o mesmo: futebol, com suas regras quase
imutáveis.
Parece que o comentário vale para
o Brasil pós-transfiguração do PT,
ainda mais se verdadeira a observação do ministro José Dirceu a Paulo
Pereira da Silva, candidato derrotado do PDT, segundo a qual não há
mais direita e esquerda.
Se não há mais, vale tudo: aliar-se a
Paulo Maluf, Antonio Carlos Magalhães, José Sarney, Orestes Quércia ou
aos adversários de cada um deles,
tanto faz. Tanto faz, é bom que se diga, aplicável tanto aos tucanos como
aos petistas.
No caso da Espanha, convém notar
que está havendo, sim, alguma diferença entre os socialistas, ora no poder, e os conservadores, que o ocuparam nos oito anos anteriores: nas
questões culturais, os socialistas mostram-se mais, digamos, "progressistas", se é que o termo não caiu de moda também, a começar do fato de que
dividiram o ministério igualmente
entre oito homens e oito mulheres,
pela primeira vez na história.
Há diferenças também em política
externa, mas no ponto que costumava ser central (o econômico-social), a
indiferenciação é quase total.
No Brasil, ou ao menos em São
Paulo, "flaflulizou-se" a política. A
paixão continua menos porque o
eleitoral comum acredita que o seu
partido vá de fato revolucionar o país
(ou a cidade) e mais porque tem por
ele uma simpatia entranhada. E, como no futebol, não admite perder especialmente para o grande rival local
ou nacional.
Se a "futebolização" da política é
coisa boa ou ruim, é outra discussão,
que não cabe no espaço hoje.
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