São Paulo, quinta-feira, 07 de outubro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Virou Fla-Flu

SÃO PAULO - Desde o início da campanha eleitoral, um comentário de amigo espanhol ficava indo e voltando da memória. Pouco antes das eleições na própria Espanha, em março, esse amigo dizia que a política estava reduzida à dimensão de um clássico de futebol (no caso, claro, Real Madrid x Barcelona).
A camisa podia ser diferente, a tática também, o time poderia ser melhor em um dado momento, pior em outro, mas o jogo era sempre o mesmo: futebol, com suas regras quase imutáveis.
Parece que o comentário vale para o Brasil pós-transfiguração do PT, ainda mais se verdadeira a observação do ministro José Dirceu a Paulo Pereira da Silva, candidato derrotado do PDT, segundo a qual não há mais direita e esquerda.
Se não há mais, vale tudo: aliar-se a Paulo Maluf, Antonio Carlos Magalhães, José Sarney, Orestes Quércia ou aos adversários de cada um deles, tanto faz. Tanto faz, é bom que se diga, aplicável tanto aos tucanos como aos petistas.
No caso da Espanha, convém notar que está havendo, sim, alguma diferença entre os socialistas, ora no poder, e os conservadores, que o ocuparam nos oito anos anteriores: nas questões culturais, os socialistas mostram-se mais, digamos, "progressistas", se é que o termo não caiu de moda também, a começar do fato de que dividiram o ministério igualmente entre oito homens e oito mulheres, pela primeira vez na história.
Há diferenças também em política externa, mas no ponto que costumava ser central (o econômico-social), a indiferenciação é quase total.
No Brasil, ou ao menos em São Paulo, "flaflulizou-se" a política. A paixão continua menos porque o eleitoral comum acredita que o seu partido vá de fato revolucionar o país (ou a cidade) e mais porque tem por ele uma simpatia entranhada. E, como no futebol, não admite perder especialmente para o grande rival local ou nacional.
Se a "futebolização" da política é coisa boa ou ruim, é outra discussão, que não cabe no espaço hoje.


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