São Paulo, quinta-feira, 07 de novembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIANE CANTANHÊDE

Na muda

BRASÍLIA - O governo Lula nem começou, mas as mudanças já são visíveis no Congresso, onde os líderes do PSDB se esfalfam para defender o salário mínimo de R$ 240, e os do PT, para justificar por que não dá.
Para analistas petistas, os tucanos são cínicos, porque estão no governo há oito anos e nunca deram aumento digno para o mínimo. Para analistas tucanos, os petistas é que são cínicos, porque usaram o mínimo para fazer demagogia todo o tempo e agora, com a faca e o queijo na mão...
Mas não é questão de cinismo, apenas de lógica parlamentar: quem é governo cuida da contabilidade, a oposição cria constrangimentos. Simples e previsível: no final das contas -e das votações-, o mínimo vai ser moderado mesmo. Como sempre.
Ainda na crônica da mudança, vale contar o curioso clima do PT à procura de um presidente para a Câmara. A coisa empacou assim: José Dirceu precisa ser chefe da Casa Civil, mas, ou é ele na Câmara, ou mais ninguém. Primeiro, porque é de fato a grande estrela política. Segundo, porque o PT fez 91 deputados, mas nenhum dos outros 90 tem experiência, estatura política ou ambas para presidir a Casa. Que coisa, hein?!
Um partido em fase de teste e com fama de juvenil (apesar dos seus líderes hoje cinquentões) não pode botar qualquer um em cargo tão estratégico. Sem Genoino, Mercadante, Jaques Wagner e Marcelo Déda, a bancada praticamente começa do zero.
Sem contar que o PSDB faz como o PT fazia e diz que não segue a regra de dar a presidência da Câmara à maior bancada: "Não temos obrigação regimental, porque a regra não é escrita nem moral e porque o PT lançou candidato contra o Aécio (Neves)", diz o líder tucano Jutahy Júnior. Mais uma vez, é simples e previsível: no final das contas -e das votações-, o PT vai ganhar mesmo. E o PSDB apenas marca posição.
Mais de 50 milhões de brasileiros votaram por mudanças. Enquanto o modelo econômico e de desenvolvimento não muda, vão mudando as práticas, os lados e os atores.
Ou será que nem tanto?


Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: A frente externa
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Uma pomba no meio do caminho
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.