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ELIANE CANTANHÊDE
Na muda
BRASÍLIA - O governo Lula nem começou, mas as mudanças já são visíveis no Congresso, onde os líderes do
PSDB se esfalfam para defender o salário mínimo de R$ 240, e os do PT,
para justificar por que não dá.
Para analistas petistas, os tucanos
são cínicos, porque estão no governo
há oito anos e nunca deram aumento
digno para o mínimo. Para analistas
tucanos, os petistas é que são cínicos,
porque usaram o mínimo para fazer
demagogia todo o tempo e agora,
com a faca e o queijo na mão...
Mas não é questão de cinismo, apenas de lógica parlamentar: quem é
governo cuida da contabilidade, a
oposição cria constrangimentos. Simples e previsível: no final das contas
-e das votações-, o mínimo vai ser
moderado mesmo. Como sempre.
Ainda na crônica da mudança, vale contar o curioso clima do PT à procura de um presidente para a Câmara. A coisa empacou assim: José Dirceu precisa ser chefe da Casa Civil,
mas, ou é ele na Câmara, ou mais
ninguém. Primeiro, porque é de fato
a grande estrela política. Segundo,
porque o PT fez 91 deputados, mas
nenhum dos outros 90 tem experiência, estatura política ou ambas para
presidir a Casa. Que coisa, hein?!
Um partido em fase de teste e com
fama de juvenil (apesar dos seus líderes hoje cinquentões) não pode botar
qualquer um em cargo tão estratégico. Sem Genoino, Mercadante, Jaques Wagner e Marcelo Déda, a bancada praticamente começa do zero.
Sem contar que o PSDB faz como o
PT fazia e diz que não segue a regra
de dar a presidência da Câmara à
maior bancada: "Não temos obrigação regimental, porque a regra não é
escrita nem moral e porque o PT lançou candidato contra o Aécio (Neves)", diz o líder tucano Jutahy Júnior. Mais uma vez, é simples e previsível: no final das contas -e das votações-, o PT vai ganhar mesmo. E
o PSDB apenas marca posição.
Mais de 50 milhões de brasileiros
votaram por mudanças. Enquanto o
modelo econômico e de desenvolvimento não muda, vão mudando as
práticas, os lados e os atores.
Ou será que nem tanto?
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