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Crescer e distribuir
Queda no ritmo de melhora da desigualdade alerta para fadiga no modelo de partilhar renda sem crescimento
SEGUNDO a versão 2005 da
Pnad, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE, a queda da desigualdade persiste no
país, mas perde fôlego. O índice
de Gini, a mais difundida medida
da distribuição de renda, melhorou 0,6% de 2004 a 2005. Trata-se do avanço mais modesto desde 2001. A redução no ano passado equivaleu a menos de um terço do 1,9% registrado em 2004,
concluiu estudo do Centro de
Políticas Sociais da FGV do Rio.
A concentração de rendimento
dá sinais de resistência nas principais regiões metropolitanas
-onde o problema da desigualdade e o da violência se encontram. De acordo com o Ipea, instituto federal de pesquisas, a disparidade de rendimentos aumentou 0,9% no conjunto dos
maiores conglomerados urbanos
em 2005. Isso ocorreu apesar da
ampliação dos programas de
transferência de renda, como o
Bolsa Família, e dos reajustes
acima da inflação concedidos ao
salário mínimo.
Inegavelmente, a política de
transferência de renda às camadas mais pobres da população
aumentou o bem-estar dos beneficiados. Mas seus limites ficam
evidentes não apenas quando se
mostra pouco eficiente nas franjas populosas e violentas das
grandes cidades mas também
quando se depara com gravíssimas restrições fiscais. Isso se deve ao fato de a renda per capita
ter crescido pífio 1% ao ano na última década e meia no Brasil.
O modelo de transferência de
renda sem crescimento, portanto, dá sinais de fadiga. Enfrentar
o desafio de acelerar a economia
e ao mesmo tempo distribuir
renda, melhorando o bem-estar
dos mais pobres, requer um outro manejo das políticas públicas. O Estado precisa controlar
com inteligência seus gastos correntes, para que a dívida pública
e os juros possam cair mais.
Esse é o caminho mais curto
para que os investimentos públicos em infra-estrutura possam
ser retomados em bases sustentáveis. Construir mais casas populares e redes de saneamento
básico, por exemplo, aumenta o
emprego de trabalhadores menos qualificados e o bem-estar
dos estratos mais pobres.
Mas a agenda do governo para
favorecer o crescimento com
distribuição de renda vai muito
além da necessidade de recuperar sua capacidade de investir dinheiro. Medidas como concessão de serviços públicos à iniciativa privada, diminuição do custo da contratação de trabalhadores, desoneração agressiva de
produtos populares etc. não custam nada ao erário. Custam em
iniciativa política. Demandam
arbitragem entre perdedores e
vencedores no momento inicial
de uma corrida -a do crescimento- que, conforme se desenvolve, beneficia a todos.
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