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NELSON MOTTA
Metamorfose ou ouro de tolo?
SALVADOR - Quem diria, o anárquico fanfarrão Raulzito virou lição
de filosofia política na boca do presidente da República, que sempre
tem opinião formada e categórica
sobre tudo. Seria um grande desgosto para ele ouvir a sua libertária
"Metamorfose ambulante" a serviço da CPMF e das mudanças de opinião de quem, na luta pelo poder,
fez de tudo para passar de pedra a
vidraça.
Raul cantava a liberdade da dúvida e da contradição, da inteligência
em movimento, em plena ditadura
militar, quando a opinião só podia
ser radical e estática: contra ou a favor. A ditadura proibia as opiniões
contrárias; a oposição proibia mudar de opinião, sob a suspeita de estar servindo à direita ou para levar
vantagem pessoal, como sempre.
A esquerda nacionalista sempre
desprezou o "americanizado" Raul
Seixas: ele era incontrolável, individualista e anárquico, detestava partidos, igrejas, instituições, torcidas,
escolas e blocos. E certezas. Mas
driblava a censura e ridicularizava
os sonhos de felicidade da classe
média governista, no "milagre brasileiro" dos anos de chumbo, com
"Ouro de tolo", aquela que diz: "eu
devia estar contente /porque tenho
um emprego, /sou um dito cidadão
respeitável/...
O baiano Raul, auto-intitulado
"um magro abusado", desempenhou com grande coragem, independência e custo pessoal o papel
de mosca na sopa dos que têm opinião formada sobre tudo, de esquerda, de direita e de centro, e debochava dos que pensam por slogans e palavras de ordem e mudam
de opinião de acordo com os interesses de suas causas, chefes e
bolsos.
Quem diria que as palavras de
Raul serviriam para legitimar algumas das coisas que ele mais abominava. Coitado, virou camiseta de
Che Guevara. O magro abusado não
merecia esse abuso.
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