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RUY CASTRO
Há 50 anos
RIO DE JANEIRO - Há 50 anos, o
Rio estava fazendo a mudança da
capital para Brasília. Sim, foi o Rio
que fez. E, exceto os funcionários
públicos, que odiavam a ideia de se
mudar para aquele ermo, o carioca
achava que a capital já ia tarde. O
Rio se veria livre de seu grosseiro
hóspede, o poder central, e conquistaria sua autonomia -como,
pela primeira vez em 400 anos, poder eleger seu administrador.
Temia-se que, com a saída do
Congresso, dos ministérios e do
corpo diplomático, a cidade decairia. Por isso, a mudança previa compensações ao Rio por ter se equipado para ser, durante séculos, capital
da colônia, do império e da República, e, de repente, se ver povoado de
elefantes federais. Na prática, o Rio
foi traído e nunca recebeu essas
compensações.
Abandonados por Brasília e tendo de se virar como pudessem, aqui
ficaram o Palácio do Itamaraty, a
Biblioteca Nacional, o Arquivo Nacional, a Rádio Nacional, o Museu
Nacional de Belas Artes, a Escola
Nacional de Música, o colégio Pedro 2º, o Observatório Nacional, a
Quinta da Boa Vista, o Museu Nacional, o Paço Imperial, o Campo
dos Afonsos, a reserva de Guaratiba, o Jardim Botânico, a Floresta da
Tijuca, o Corcovado, o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar. Tudo federal. E, bem ou mal, tudo sobreviveu,
mas não graças à União.
Por sorte, não havia como levar o
que era só do Rio e, para o bem do
Brasil, existe até hoje: Copacabana,
o Arpoador, o Maracanã, o Copacabana Palace, o Teatro Municipal, a
Lagoa, o Largo do Boticário, a Candelária, Paquetá, a Ilha Fiscal, a Colombo, o Lamas, o Rio-Minho, a
Academia Brasileira de Letras, os
Arcos, a Gamboa, a praça Paris, o
Saara, o Mirante Dona Marta, a rua
Paissandu, o Carnaval, o samba, o
choro, a bossa nova, os pés-sujos, o
picadinho, o poente do Leblon, a
Danuza Leão e muito mais.
E, naturalmente, o Flamengo!
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