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TENDÊNCIAS/DEBATES
A politização do marketing político
CHICO SANTA RITA
As próximas eleições prometem
muita emoção. A disputa já começa agora, na definição das candidaturas,
e deverá continuar cada vez mais acirrada, já que não há perspectiva imediata
de que alguma delas se destaque. Para
apimentar ainda mais essa receita, por
si só explosiva, tem sido discutida a validade do marketing político como instrumento capaz de interferir profundamente nesse processo.
Um tempero forte foi posto na discussão com o texto de Mario Sergio Conti,
"A despolitização da política", publicado por esta Folha em 29/12, onde a conclusão é expressada no próprio título da
resenha, que analisa dois livros sobre o
assunto, recém-lançados.
No que diz respeito ao meu livro, "Batalhas Eleitorais - 25 Anos de Marketing
Político", vou deixar de lado as agressões gratuitas e os erros de interpretação para me concentrar no principal.
Talvez tenha faltado ao articulista
uma leitura mais acurada para perceber
que o que proponho é exatamente o
contrário de sua conclusão manchetária. Sou defensor intransigente da prevalência do conteúdo sobre a forma
-outra discussão muito na moda-,
minhas campanhas mostram isso de
modo incontestável. Jamais defendi ou
defenderei "qualquer política e qualquer candidato", como quer o sr. Conti.
Já me recusei (está descrito no próprio
livro) e me recusarei a trabalhar numa
campanha que não privilegie os princípios éticos e morais.
Pratico, prego e torço pela politização
do marketing político, pois isso significará uma maior politização da sociedade brasileira. Todos esses conceitos são
amplamente desenvolvidos no meu texto, acompanhando os fatores que levaram a uma melhoria geral da qualidade
do voto em nosso país.
A conclusão pode ser encontrada na
página 228: "É assim que a população
vem aprendendo a participar do processo democrático. É assim que o voto
de cabresto e o velho curral eleitoral caminham para a extinção. Claro que ainda há falhas e ruídos no processo. Na
verdade, se por um lado ainda não temos uma situação ideal, por outro é inegável que andamos para a frente".
Sou um defensor
intransigente da
prevalência do conteúdo
sobre a forma, minhas
campanhas mostram isso
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Faltou leitura, pois explicito na página
97 que não trabalhei para o governo
Collor por opção, e não por razões mercenárias. Está escrito: "De minha parte
também perdi, por espontânea vontade, a chance de receber algum tipo de
pagamento, afastando-me daquelas
pessoas".
Tanto faltou leitura que o sr. Conti
passa por cima dos 20 anos em que fui
jornalista ("Estadão", "Jornal da Tarde", Editora Abril, TV Globo) e me coloca como "publicitário", atividade que
também exerci esporadicamente, com
muita honra. Nesse ponto, com extrema prepotência, generaliza e agride a
todos os publicitários: "Estão acostumados a textos curtos e simplórios. Têm
dificuldade em lidar com raciocínios.
Desconhecem o que seja nuança, complexidade, aprofundamento".
A minha formação está clara, na opção que faço na página 229: "Tenho preferido os programas eleitorais de rádio e
TV que têm o jornalismo como ponto
de apoio e de partida. Uma outra linha
prefere ter esse ponto nos princípios da
propaganda. É que, no primeiro caso, fico com os pés mais fincados na realidade, entrando, quando necessário, pelos
veios da emoção e usando todos os recursos que a TV oferece".
Quanto à discussão sobre a validade
do marketing político, condenar a atividade levianamente me cheira a patrulhamento, macartismo abominável.
Mas a história é assim mesmo: qualquer
movimento evolutivo defronta-se sempre com os contrários.
Isso lembra as discussões acadêmicas
do início do século passado, quando a
publicidade começou a mexer com hábitos de consumo e os conservadores se
perguntavam se era válido e lícito influir
na decisão de compra de uma pessoa.
Lembra também as discussões acadêmicas do meio do século, surpreendidas
com o desenvolvimento da televisão,
quando essa "máquina diabólica" ia
acabar com o teatro, com o cinema e até
mesmo com a literatura.
Coisas da pré-história das comunicações... "vade retro"!
Chico Santa Rita, 62, é jornalista, publicitário e
especialista em marketing político. É autor do livro "Batalhas Eleitorais - 25 Anos de Marketing
Político.
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