São Paulo, terça-feira, 08 de janeiro de 2002

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TENDÊNCIAS/DEBATES

A politização do marketing político

CHICO SANTA RITA

As próximas eleições prometem muita emoção. A disputa já começa agora, na definição das candidaturas, e deverá continuar cada vez mais acirrada, já que não há perspectiva imediata de que alguma delas se destaque. Para apimentar ainda mais essa receita, por si só explosiva, tem sido discutida a validade do marketing político como instrumento capaz de interferir profundamente nesse processo.
Um tempero forte foi posto na discussão com o texto de Mario Sergio Conti, "A despolitização da política", publicado por esta Folha em 29/12, onde a conclusão é expressada no próprio título da resenha, que analisa dois livros sobre o assunto, recém-lançados.
No que diz respeito ao meu livro, "Batalhas Eleitorais - 25 Anos de Marketing Político", vou deixar de lado as agressões gratuitas e os erros de interpretação para me concentrar no principal.
Talvez tenha faltado ao articulista uma leitura mais acurada para perceber que o que proponho é exatamente o contrário de sua conclusão manchetária. Sou defensor intransigente da prevalência do conteúdo sobre a forma -outra discussão muito na moda-, minhas campanhas mostram isso de modo incontestável. Jamais defendi ou defenderei "qualquer política e qualquer candidato", como quer o sr. Conti.
Já me recusei (está descrito no próprio livro) e me recusarei a trabalhar numa campanha que não privilegie os princípios éticos e morais.
Pratico, prego e torço pela politização do marketing político, pois isso significará uma maior politização da sociedade brasileira. Todos esses conceitos são amplamente desenvolvidos no meu texto, acompanhando os fatores que levaram a uma melhoria geral da qualidade do voto em nosso país.
A conclusão pode ser encontrada na página 228: "É assim que a população vem aprendendo a participar do processo democrático. É assim que o voto de cabresto e o velho curral eleitoral caminham para a extinção. Claro que ainda há falhas e ruídos no processo. Na verdade, se por um lado ainda não temos uma situação ideal, por outro é inegável que andamos para a frente".


Sou um defensor intransigente da prevalência do conteúdo sobre a forma, minhas campanhas mostram isso
Faltou leitura, pois explicito na página 97 que não trabalhei para o governo Collor por opção, e não por razões mercenárias. Está escrito: "De minha parte também perdi, por espontânea vontade, a chance de receber algum tipo de pagamento, afastando-me daquelas pessoas".
Tanto faltou leitura que o sr. Conti passa por cima dos 20 anos em que fui jornalista ("Estadão", "Jornal da Tarde", Editora Abril, TV Globo) e me coloca como "publicitário", atividade que também exerci esporadicamente, com muita honra. Nesse ponto, com extrema prepotência, generaliza e agride a todos os publicitários: "Estão acostumados a textos curtos e simplórios. Têm dificuldade em lidar com raciocínios. Desconhecem o que seja nuança, complexidade, aprofundamento".
A minha formação está clara, na opção que faço na página 229: "Tenho preferido os programas eleitorais de rádio e TV que têm o jornalismo como ponto de apoio e de partida. Uma outra linha prefere ter esse ponto nos princípios da propaganda. É que, no primeiro caso, fico com os pés mais fincados na realidade, entrando, quando necessário, pelos veios da emoção e usando todos os recursos que a TV oferece".
Quanto à discussão sobre a validade do marketing político, condenar a atividade levianamente me cheira a patrulhamento, macartismo abominável. Mas a história é assim mesmo: qualquer movimento evolutivo defronta-se sempre com os contrários.
Isso lembra as discussões acadêmicas do início do século passado, quando a publicidade começou a mexer com hábitos de consumo e os conservadores se perguntavam se era válido e lícito influir na decisão de compra de uma pessoa. Lembra também as discussões acadêmicas do meio do século, surpreendidas com o desenvolvimento da televisão, quando essa "máquina diabólica" ia acabar com o teatro, com o cinema e até mesmo com a literatura.
Coisas da pré-história das comunicações... "vade retro"!


Chico Santa Rita, 62, é jornalista, publicitário e especialista em marketing político. É autor do livro "Batalhas Eleitorais - 25 Anos de Marketing Político.


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