São Paulo, segunda-feira, 08 de janeiro de 2007

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

"Bolsismo" e miséria econômica

SÃO PAULO - "Um país que não cresce acaba não distribuindo renda, mas equalizando a pobreza. A economia da pobreza não pode ter como base a pobreza da economia. A falta de desenvolvimento pune os mais necessitados; torna-os clientela cativa do assistencialismo." São palavras do discurso de posse de José Serra, todo voltado a uma das mais substantivas críticas ao governo Lula em muito tempo.
Não só à sua deterioração moral, conhecida de todos, mas sobretudo à sua opção econômica -e aí as palavras do governador paulista destoam e se distanciam muito do que o PSDB praticou na era FHC e pregou na última campanha.
É "a pior combinação de juros e câmbio do mundo" que afasta as oportunidades de investimento, e sem enfrentar esse nó, o resto terá efeito de perfumaria. Serra vê a ruína do país no que chama de "semi-estagnação que já se prolonga por 25 anos". Diz que esse ciclo perverso "é também intelectual, de ambições modestas e fracassos bem-sucedidos". São expressões que deveriam convidar à reflexão: o que a oposição democrática ao regime militar fez e fará do país que já comanda há 12 anos? Como que por ironia, quase ao mesmo tempo Lula dizia em Brasília que "os verbos acelerar, crescer e incluir" vão reger o segundo mandato. O que ficou de seu discurso, porém, foi menos a defesa do crescimento do que a opção pelo distributivismo possível.
"Não faltaram os que, do alto de seus preconceitos elitistas, tentaram desqualificar a opção popular como fruto da sedução que poderia exercer sobre ela o que chamavam de distribuição de migalhas. Os que assim pensam não entendem e não conhecem este país", disse Lula.
Caminhamos no segundo mandato para a expansão do "bolsismo" e do "pan-migalhismo" redentor, sem que se vislumbrem mudanças maiores na economia ou enfrentamentos com os de cima. Esse jogo sem derrotados e sem adversários, no qual todos venceriam, só pode ser uma fraude -no caso, histórica.


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