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FERNANDO DE BARROS E SILVA
"Bolsismo" e miséria econômica
SÃO PAULO - "Um país que não
cresce acaba não distribuindo renda, mas equalizando a pobreza. A
economia da pobreza não pode ter
como base a pobreza da economia. A
falta de desenvolvimento pune os
mais necessitados; torna-os clientela cativa do assistencialismo."
São palavras do discurso de posse
de José Serra, todo voltado a uma
das mais substantivas críticas ao
governo Lula em muito tempo.
Não só à sua deterioração moral,
conhecida de todos, mas sobretudo
à sua opção econômica -e aí as palavras do governador paulista destoam e se distanciam muito do que
o PSDB praticou na era FHC e pregou na última campanha.
É "a pior combinação de juros e
câmbio do mundo" que afasta as
oportunidades de investimento, e
sem enfrentar esse nó, o resto terá
efeito de perfumaria. Serra vê a ruína do país no que chama de "semi-estagnação que já se prolonga por
25 anos". Diz que esse ciclo perverso "é também intelectual, de ambições modestas e fracassos bem-sucedidos". São expressões que deveriam convidar à reflexão: o que a
oposição democrática ao regime
militar fez e fará do país que já comanda há 12 anos? Como que por
ironia, quase ao mesmo tempo Lula
dizia em Brasília que "os verbos
acelerar, crescer e incluir" vão reger o segundo mandato. O que ficou
de seu discurso, porém, foi menos a
defesa do crescimento do que a opção pelo distributivismo possível.
"Não faltaram os que, do alto de
seus preconceitos elitistas, tentaram desqualificar a opção popular
como fruto da sedução que poderia
exercer sobre ela o que chamavam
de distribuição de migalhas. Os que
assim pensam não entendem e não
conhecem este país", disse Lula.
Caminhamos no segundo mandato para a expansão do "bolsismo"
e do "pan-migalhismo" redentor,
sem que se vislumbrem mudanças
maiores na economia ou enfrentamentos com os de cima. Esse jogo
sem derrotados e sem adversários,
no qual todos venceriam, só pode
ser uma fraude -no caso, histórica.
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