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Empregos baratos
Criação de vagas formais e rotatividade maiores entre empregados menos escolarizados deveriam incentivar o treinamento
REPORTAGEM publicada
nesta Folha no domingo
revelou que, por trás dos
números recordes de geração de empregos formais no
governo Lula, predomina a abertura de vagas mais mal remuneradas para trabalhadores menos
escolarizados. Na contramão, os
postos para funções que exigem
maior nível de ensino e, conseqüentemente, melhor remuneração tendem a encolher.
Entre 2003 e 2006 houve uma
preponderância de novas vagas
com carteira assinada para cargos como o de vendedor no comércio varejista, trabalhadores
em linhas de produção e auxiliares de escritório. A função de
servente de obra também está
em alta, refletindo o recente
boom na construção civil.
Já os cortes de postos de trabalho foram mais acentuados entre
supervisores administrativos e
gerentes de lojas e supermercados. O mesmo aconteceu com
outras funções de chefia, como a
de inspetor.
Cabe lembrar aqui a existência
de forte tendência no mercado
de substituir vagas formais nessas "funções-meio" por prestadores de serviço. Em muitos casos, o próprio funcionário sai da
formalidade e abre uma empresa
para prestar serviços ao empregador em troca de rendimento
maior -possível com a economia de encargos trabalhistas antes pagos ao governo.
A tendência de maior abertura
de vagas em profissões que exigem menor escolaridade segue o
perfil socioeconômico do Brasil.
Segundo dados do Datafolha,
quase a metade dos brasileiros
(49%) a partir de 16 anos de idade estudou só até o ensino fundamental. Desses, a maioria
(59%) acaba conseguindo obter
uma renda familiar mensal que
não ultrapassa os dois salários
mínimos (R$ 760).
Em contrapartida, entre os
10% de brasileiros que cursaram
(ou cursam) o ensino superior,
só 12% têm renda familiar de até
dois mínimos, e 25% conseguem
uma renda familiar acima de dez
salários mínimos (R$ 3.800).
A criação de vagas formais bateu novo recorde no ano passado, com um saldo positivo de 1,6
milhão de empregos com carteira assinada. Segundo dados do
Ministério do Trabalho, a rotatividade no mercado também é
maior justamente entre os profissionais menos escolarizados e
mais mal remunerados.
Levando em conta que o Brasil
é um país pobre -e que deveria
ter como prioridade a melhora
na distribuição da renda-, além
de proporcionar condições macroeconômicas que encorajem a
criação de empregos, outra meta
da política pública deveria ser a
de utilizar verbas já disponíveis
para o treinamento dessa mão-de-obra menos qualificada. Não
é raro observar diariamente no
setor de serviços, por exemplo, a
precariedade do atendimento
oferecido ao público.
Para isso, o governo não só já
dispõe de recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador)
como deveria incentivar entidades como Sesc e Senai a massificar programas de treinamento.
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