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FERNANDO CANZIAN
Jogando contra
quem paga a conta
A DERROTA do governo na
votação da CPMF destampou a situação de precariedade das contas públicas do país e
oferece uma idéia precisa do gigantismo do glutão Estado brasileiro.
Para compensar os cerca de R$
40 bilhões perdidos com o fim do
imposto do cheque, o governo espera R$ 10 bilhões de uma elevação
natural da arrecadação e outros R$
10 bilhões em receitas geradas por
novo aumento de impostos e contribuições. Os R$ 20 bilhões restantes sairiam de um corte de gastos em várias áreas.
Esses R$ 20 bilhões equivalem a
apenas 3,5% de todas as despesas
obrigatórias ou não previstas pelo
governo. É pouco considerando
verbas totais de mais de R$ 560 bilhões. Mesmo assim, o governo já
está mudando de idéia quanto à tosa em face à rigidez orçamentária.
Na ponta do lápis, só 11% do gasto
não-financeiro do governo central
é hoje passível de corte.
O restante são despesas obrigatórias e crescentes, como o gasto
com o funcionalismo (subiu 20%
acima da inflação em dez anos) e
outros vinculados à Previdência
(alta superior a 25%). Ao longo dos
próximos anos, com o novo inchaço na máquina patrocinado pelo
governo Lula, essa margem para
cortes vai diminuir ainda mais.
O mais grave é que a situação do
governo só é confortável hoje porque a arrecadação está "bombando" junto com a economia. Uma reversão nesse quadro é a ante-sala
de uma nova crise fiscal.
Diante do engessamento e do
constante aumento da despesa pública, o governo está preferindo tomar, como sempre, o caminho
mais fácil. Segundo o ministro Paulo Bernardo (Planejamento), a opção mais viável talvez seja diminuir
a economia que o governo faz para
pagar juros de sua dívida.
Lançando mão da prerrogativa
do chamado PPI (Projeto Piloto de
Investimentos Públicos), o governo deixaria de economizar em
2008 o equivalente a R$ 13,8 bilhões que seriam usados para pagar
a dívida pública. O corte de R$ 20
bilhões, portanto, sairia pela bagatela de R$ 6,2 bilhões.
"Genial" do ponto de vista matemático, a estratégia tende a diminuir a velocidade da queda da relação dívida/PIB (hoje em 42,6%) e
emparedar ainda mais o Banco
Central, já preocupado o bastante
com a inflação, no que se refere a
novos cortes de juros.
A decisão pelo mais fácil também
contribui para adiar ainda mais a
chegada do chamado grau de investimento ao Brasil. Sem ele, as empresas privadas continuarão pagando mais caro que suas concorrentes emergentes por financiamentos no exterior e contarão com
menos investidores internacionais
interessados em suas ações -outra
forma de levantar dinheiro barato
para investimentos e negócios.
De novo, é o governo trabalhando contra o Brasil que o sustenta.
FERNANDO CANZIAN é repórter especial da Folha.
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