|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OS CRUZADOS DE LULA
O ministério da Fazenda do
governo Luiz Inácio Lula da
Silva exibe renovado espírito de cruzada. A obsessão da vez é acelerar a
entrada do Brasil no grupo dos países que pagam menos por empréstimos no exterior. Significa obter das
agências globais de classificação de
risco, a toque de caixa, o que o jargão
chama de "grau de investimento".
É como se a equipe econômica, ao
erguer a bandeira, quisesse se refazer
da má imagem deixada pelo fato de
sua política restritiva ter contribuído
para a forte redução do crescimento
do PIB no ano passado. Entregaria a
Lula, de preferência em plena disputa pela reeleição, mais uma peça para
seu discurso ufanista.
O problema é que o método escolhido para chegar ao "investment
grade" arrisca exacerbar os custos da
política econômica para a dívida pública e para os exportadores.
Justo quando o Banco Central dá
mostras de que sua tática de comprar
dólares nos mercados à vista e a termo entrou em fadiga, a Fazenda confirma empreender um estudo, já em
fase "avançada", para isentar de imposto o investidor externo que aplica
em títulos do governo. A intenção,
nobre, é a de que os estrangeiros ajudem o Brasil a melhorar o perfil de
sua dívida pública, acelerando a troca
por papéis prefixados dos títulos corrigidos pela taxa básica de juros (Selic) e permitindo que esta caia.
Mas o custo imediato de tentar alcançar essa meta, de resto incerta, ao
longo dos anos é incentivar ainda
mais a entrada de dólares aqui e agora. Mais divisas significam mais
pressão pela valorização do real, o
que se corrige aumentando as reservas e emitindo mais dívida pública.
Ou não se corrige (ou não se consegue corrigir), ameaçando ainda mais
a rentabilidade dos exportadores.
Raciocínio análogo pode ser feito
sobre a idéia de avançar na quitação
antecipada de parte da dívida externa, com vistas a entrar para o time
dos países de baixo risco de crédito o
quanto antes. São todos objetivos desejáveis, mas que se tornam custosos
demais no momento, principalmente por conta da Selic nas alturas.
Texto Anterior: Editoriais: DE PÉSSIMO A MEDÍOCRE Próximo Texto: Editoriais: BOLSA-VIAGEM Índice
|