São Paulo, quarta-feira, 08 de fevereiro de 2006

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OS CRUZADOS DE LULA

O ministério da Fazenda do governo Luiz Inácio Lula da Silva exibe renovado espírito de cruzada. A obsessão da vez é acelerar a entrada do Brasil no grupo dos países que pagam menos por empréstimos no exterior. Significa obter das agências globais de classificação de risco, a toque de caixa, o que o jargão chama de "grau de investimento".
É como se a equipe econômica, ao erguer a bandeira, quisesse se refazer da má imagem deixada pelo fato de sua política restritiva ter contribuído para a forte redução do crescimento do PIB no ano passado. Entregaria a Lula, de preferência em plena disputa pela reeleição, mais uma peça para seu discurso ufanista.
O problema é que o método escolhido para chegar ao "investment grade" arrisca exacerbar os custos da política econômica para a dívida pública e para os exportadores.
Justo quando o Banco Central dá mostras de que sua tática de comprar dólares nos mercados à vista e a termo entrou em fadiga, a Fazenda confirma empreender um estudo, já em fase "avançada", para isentar de imposto o investidor externo que aplica em títulos do governo. A intenção, nobre, é a de que os estrangeiros ajudem o Brasil a melhorar o perfil de sua dívida pública, acelerando a troca por papéis prefixados dos títulos corrigidos pela taxa básica de juros (Selic) e permitindo que esta caia.
Mas o custo imediato de tentar alcançar essa meta, de resto incerta, ao longo dos anos é incentivar ainda mais a entrada de dólares aqui e agora. Mais divisas significam mais pressão pela valorização do real, o que se corrige aumentando as reservas e emitindo mais dívida pública. Ou não se corrige (ou não se consegue corrigir), ameaçando ainda mais a rentabilidade dos exportadores.
Raciocínio análogo pode ser feito sobre a idéia de avançar na quitação antecipada de parte da dívida externa, com vistas a entrar para o time dos países de baixo risco de crédito o quanto antes. São todos objetivos desejáveis, mas que se tornam custosos demais no momento, principalmente por conta da Selic nas alturas.


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