São Paulo, segunda, 8 de fevereiro de 1999

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SINUCA AUTOMOBILÍSTICA

Antes mesmo da crise cambial a indústria automobilística vinha enfrentando problemas de excesso de oferta e, talvez mais grave, de aumento exagerado da capacidade produtiva. Diante de um cenário recessivo certamente mais forte nos próximos meses, o impasse é ainda maior.
As iniciativas visando a uma diluição dos impactos na produção e no emprego são louváveis, mas são um paliativo. Resta saber se, sobre esse terreno de negociações aplainado nas últimas semanas, não seriam possíveis políticas mais ousadas.
O ministro do Desenvolvimento, Celso Lafer, condenou as câmaras setoriais com insistência, em alguns pronunciamentos após a posse. Ora, o que se presenciou nas últimas semanas foi a reconstrução de mecanismos de negociação que, na prática, constituem uma autêntica câmara setorial, incluindo governo, empresas e sindicatos de trabalhadores.
É certo que a pauta dessas negociações e mesmo o seu ritmo foram ditados pela angústia, causada não só pelo horizonte negro, mas pela iminência de demissões em massa.
O efeito dos acordos alcançados será necessariamente temporário. Entretanto nada impede que o governo federal abandone o imobilismo e, mesmo mudando o nome, se preferir, reabra negociações sobre o regime automotivo em seu conjunto.
Aliás, é importante registrar que as dificuldades de várias montadoras são grandes não apenas no Brasil, mas na Argentina também. Assim, seria oportuno incluir na agenda uma reavaliação dos horizontes do setor automobilístico no Mercosul.
Uma negociação séria, pautada pela reformulação da política industrial para o setor, precisa partir de uma constatação preliminar: o problema se concentra no excesso de capacidade de produção. Ele é agravado pela ânsia com que os Estados, num momento que talvez parecesse mais promissor, assumiram compromissos com montadoras que, na atual crise, tampouco terão como honrar.
Ou se encara a questão ou as partes que hoje negociam ficarão condenadas a lutar por medidas paliativas.



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